terça-feira, 17 de abril de 2012

Contaminação por agrotóxicos: um problema grave no campo

A ação dos agrotóxicos sobre a saúde humana costuma ser deletéria; muitas vezes, fatal. Pode provocar náuseas, tontura, dores de cabeça, alergias, lesões renais e hepáticas, cânceres, alterações genéticas, doença de Parkinson, entre outros efeitos. Alguns desses sintomas podem ser percebidos logo após o contato com o produto, no caso dos chamados efeitos agudos. Outros sintomas se tornam evidentes apenas após semanas, meses ou anos, são os chamados efeitos crônicos.




Os gastos mundiais com agrotóxicos crescem continuamente. Passaram de US$ 20 bilhões em 1983 para US$ 34,1 bilhões ao longo dos anos 90. A América Latina é a região em que as vendas mais cresceram. No Brasil, foi observado importante aumento de vendas passando de 1 bilhão de dólares em 1990 para 2,18 bilhões de dólares em 1997. Na safra de 2009, foram utilizadas um milhão de toneladas de defensivos agrícolas, adubos e fertilizantes (SINDAG, 2010). Em 2010, o mercado nos Estados Unidos movimentou US$ 7,8 bilhões em venda de agrotóxicos. O mercado brasileiro registrou US$ 7,3 bilhões.

Segundo estudo elaborado pela consultoria alemã Kleffmann, o consumo de agrotóxicos pelos produtores americanos teve queda de 6% entre 2004 e 2009. No Brasil o crescimento foi de 1,5% no mesmo período. Atualmente, as lavouras em que se concentram as maiores vendas de agrotóxicos no Brasil são a de soja com 44%, seguida pelo algodão com 11%.
Os dados oficiais brasileiros sobre intoxicações por agrotóxicos não retratam a realidade do País. Os registros são insuficientes, parciais, fragmentados, desarticulados e dispersos em várias fontes de dados, como CAT (Comunicação de Acidente do Trabalho), Sinitox (Sistema Nacional de Informação Tóxico-Farmacológica), SIH (Sistema de Internação Hospitalar), Sinan (Sistema Nacional de Informação de Agravos Notificáveis) e outros.

A intoxicação durante o manuseio ou a aplicação de produtos fitossanitários é considerada um acidente de trabalho. Por isso é importante o uso de Equipamentos de Proteção Individual para cada atividade. Esta medida reduz os sintomas de toxidez, que são cumulativos no organismo. O emprego de EPIs deve ser considerado como uma tecnologia de proteção disponível dentro de uma visão integrada e sistêmica de abordagem dos problemas ocupacionais.

Pesquisa

A forma como é conduzida e balanceada a escolha das alternativas de prevenção, proteção e controle está intimamente relacionada à eficiência de todo o sistema de Saúde e Segurança no Trabalho. Um projeto eficiente de SST deve contemplar, em um enfoque sistêmico, a integração de todos os elementos relevantes para estabelecer políticas e estratégias adequadas a cada realidade situacional. A gestão eficaz de um programa de Saúde e Segurança do Trabalho deve ambicionar ainda o aumento da produtividade nos processos de trabalho com redução nos riscos.

Dentro deste contexto, o presente estudo teve como objetivo verificar se os EPIs utilizados no manuseio e na aplicação de agrotóxico pelos agricultores no município de Entre Rios/SC estavam sendo corretamente utilizados dentro dos padrões recomendados. A pesquisa de campo foi desenvolvida entre os meses de junho e a primeira quinzena de outubro de 2008, com participação de 25 agricultores que aplicavam agrotóxicos em suas lavouras, indiferentemente da cultura estabelecida. Agricultores e seus familiares foram entrevistados individualmente com base em um questionário previamente elaborado para dar subsídio ao levantamento de dados. O objetivo principal foi avaliar o conhecimento dos participantes sobre o manuseio e a aplicação dos agrotóxicos.
Os agrotóxicos estão presentes na vida diária de milhões de trabalhadores do campo. No entanto, seu uso indevido contribui para a degradação ambiental, além de ser frequente a ocorrência de intoxicações, constituindo um dos principais problemas de saúde pública no meio rural brasileiro. Este é o alerta que faz o estudo "Avaliação do impacto da exposição a agrotóxicos sobre a saúde de população rural. Vale do Taquari (RS, Brasil)", publicado em agosto de 2011 na revista Ciência & Saúde Coletiva.

O estudo analisou a possível associação entre contato com agrotóxicos e a prevalência de doenças crônicas na população rural do Vale do Taquari, importante zona agrícola do Rio Grande do Sul. A autoria é de Iraci Lucena da Silva Torres, professora do departamento de Farmacologia da UFRGS e colegas do Centro Universitário Univates e da Universidade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre.

Segundo a pesquisa, o Brasil é o terceiro mercado e o oitavo maior consumidor de agrotóxicos por hectare do mundo, sendo herbicidas e inseticidas responsáveis por 60% dos produtos comercializados no país. "Três são as principais vias responsáveis pelo impacto direto da contaminação humana: a ocupacional, que se caracteriza pela contaminação dos trabalhadores que manipulam essas substâncias; a ambiental, que ocorre por meio de dispersão/distribuição dos agrotóxicos ao longo dos diversos componentes do meio ambiente; e a alimentar, que se dá pela contaminação relacionada à ingestão de produtos contaminados por agrotóxicos", explicam os autores no artigo.

Os pesquisadores entrevistaram 298 pessoas. Destas, 68,4% informaram utilizar agrotóxicos. Os resultados mostram uma associação entre o contato com agrotóxicos e o relato de doenças neurológicas e também síndromes dolorosas.

"Indivíduos com contato com agrotóxicos apresentaram 2,5 vezes mais chances de relatar doenças neurológicas e 2 vezes mais chances de relatarem síndromes dolorosas do que os sem contato. Agrotóxicos de vários grupos, como organofosforados, carbamatos, organoclorados, piretroides e outros, se associam a efeitos neurológicos agudos com exposições a altas doses", explicam os autores.

Eles também contam que podem haver sequelas tanto sensitivas quanto motoras, além de deficiências cognitivas transitórias ou permanentes. E destacam a possível inter-relação entre a exposição crônica a agrotóxicos e o desenvolvimento de doenças degenerativas do sistema nervoso central.

"Em estudo realizado em Nova Friburgo (RJ), verificaram respostas alteradas ao exame neurológico periférico do sistema motor e sensitivo em uma amostra de 102 pequenos agricultores, de ambos os sexos, sugerindo neuropatia tóxica, com provável degeneração axonal", dizem na pesquisa.

O estudo realizado na região Sul do país também observou associação significativa entre o contato com agrotóxicos e o relato de doenças orais. Quanto a estas últimas, nenhum dos indivíduos sem contato relatou a sua presença, enquanto 3,7% dos com contato apresentavam-nas.

Segundo a pesquisa, a exposição ocupacional a pesticidas tem sido relacionada a outros efeitos prejudiciais à saúde, incluindo doenças que afetam pele, olhos e trato respiratório, podendo levar à morte. "Intoxicações por agrotóxicos são frequentes entre os agricultores, determinando, por vezes, a proibição médica do trabalho na lavoura e a orientação para outro tipo de atividade profissional", alertam os autores.

Intoxicações
Os agrotóxicos representam a quinta principal causa de intoxicações humanas no Brasil, conforme pesquisa do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). No período de 2000 a 2009, foram registrados 4.974 casos, contra 26.286 da causa principal, o uso indevido de medicamentos. Mas o uso indevido do insumo agrícola está no topo dos casos de morte por intoxicação. No mesmo período, 1.412 pessoas morreram por contato, inalação ou ingestão de agrotóxicos, média de 157 mortes por ano.

Fonte: http://www.protecao.com.br/home/

Reportagem sobre o Assunto

2 comentários:

  1. Obrigada, meu pai tem um sitio numa regiao de agronegocios e monocultivos de soja, e tem sentido alguns sintomas estranhos desde o inicio deste ano, talvez pela exposicao indireta ao agrotoxicos usados nos arredores do seu sitio, que injustiça, não?

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  2. Pode ser sim, o ideal seria ele fazer check up de exames para verificar o problema. Abraços

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