A osteoporose é uma doença óssea sistêmica, (i.e. generalizada a todo o esqueleto), que por si só não causa sintomas, caracterizada por uma densidade mineral óssea (DMO) diminuída e alterações da microarquitecura e da resistência ósseas que causam aumento da fragilidade óssea e, consequentemente, aumento do risco de fraturas.
Se não for prevenida precocemente, ou se não for tratada, a perda de massa óssea vai aumentando progressivamente, de forma assintomática, sem manifestações, até à ocorrência de uma fratura.
O que caracteriza as fraturas osteoporóticas é ocorrerem com um traumatismo mínimo, que não provocaria fratura num osso normal. Chamado fraturas de fragilidade.
Uma vez que o número de mulheres em risco de desenvolver osteoporose pós-menopausa aumenta à medida que a população vai envelhecendo, é fundamental identificar de forma precoce e exata quais as que se encontram em risco de sofrer fraturas.
Causas da Osteoporose
A osteoporose decorre de um desequilíbrio entre as células que produzem a substância óssea (fase que se designa por formação) e as células que destroem a substância óssea (reabsorção), ou seja, as células que se encontram envolvidas no ciclo normal renovação (designada por remodelação) do osso.
A perda de substância óssea torna-se tão acentuada que mesmo as atividades cotidianas que implicam um esforço mínimo sobre os ossos podem provocar a sua fratura.
A osteoporose, que pela definição operacional da Organização Mundial de Saúde (OMS) é sinônimo de Densidade Mineral Óssea (DMO) diminuída, pode ter múltiplas causas, e pode classificar-se num dos seguintes dois grupos:
- Osteoporose primária, quando não há uma patologia subjacente que justifique a sua ocorrência. Resulta, em princípio, da diminuição de estrogênios após a menopausa e/ou da aquisição insuficiente de massa óssea durante a fase de crescimento do indivíduo;
- Osteoporose secundária, quando a perda óssea é secundária a uma doença, a um distúrbio alimentar ou a medicação.
Osteoporose primária
A causa principal da osteoporose primária é a deficiência de estrogênios (hormonas femininas).
Na osteoporose pós-menopausa, a perda óssea acelerada deve-se à deficiência de estrogênios que ocorre na altura da menopausa e é agravada pela idade, afetando todo o esqueleto. A deficiência de estrogênios é a causa mais importante de osteoporose na mulher pós-menopausa.
Na mulher jovem, saudável, a formação e a reabsorção ósseas estão em equilíbrio, mantendo-se a massa óssea constante. Na mulher pós-menopausa, a reabsorção óssea predomina, pelo que se verifica perda da massa óssea e redução da resistência óssea conduzindo, por fim, à osteoporose e às fraturas. A diminuição de estrogênios circulantes promove a perda acelerada de osso das seguintes formas:
- Pelo aumento da reabsorção óssea
- Pela diminuição da formação de osso
A perda de massa óssea é mais acentuada nos 3-6 anos após a menopausa. Após a perda acelerada inicial, a perda óssea diminui lenta e gradualmente até aos valores verificados antes da menopausa.
A perda óssea verificada nos primeiros anos após a menopausa tem a sua maior repercussão ao nível do osso trabecular (osso constituído por finas lamelas que se entrecruzam, dando a este tipo de osso uma textura esponjosa, ao mesmo tempo leve e resistente ao choque) que existe predominantemente nas vértebras e punhos.
Por conseguinte, as primeiras fraturas osteoporóticas numa mulher tendem a ocorrer nas vértebras ou nos punhos. Como a ocorrência duma fratura vertebral está associada a um aumento significativo do risco de novas fraturas e da morbilidade que lhes está associada, é importante a intervenção precoce para prevenção da primeira fratura vertebral.
Uma vez que as fraturas vertebrais são altamente preditivas do risco de fraturas futuras e da morbilidade associada, é importante a intervenção precoce para prevenção da primeira fratura vertebral.
Osteoporose secundária
Quer no homem, quer na mulher, a osteoporose e o aumento do risco de fraturas podem ocorrer como consequência de diversas situações clínicas:
- Doenças genéticas,
- Hipogonadismo (défice de hormonas sexuais),
- Doenças endócrinas (hormonais),
- Doenças gastrintestinais,
- Doenças hematológicas (doenças do sangue),
- Doenças auto-imunes (como a artrite reumatóide),
- Deficiências nutricionais,
- Distúrbios alimentares,
- Alcoolismo,
- Doenças crónicas sistémicas, tais como doença renal grave.
Diagnóstico
História clínica
Os doentes podem referir dor crônica ou frequente na coluna vertebral (raquialgias) causada pela ocorrência de fraturas vertebrais ou pelas alterações posturais que delas decorrem. Podem também queixar-se de dificuldade em alcançar objetos situados a uma altura que antes alcançavam sem dificuldade.
Exame físico
O exame físico permitirá identificar eventuais sinais da existência de osteoporose. Por exemplo, as fraturas vertebrais podem também originar deformidades visíveis da coluna, como a clássica gibosidade (corcunda) na região dorsal superior. A medição da altura poderá detectar uma diminuição significativa em relação à altura que o indivíduo tinha na juventude (registrada, p.e. no BI).
Exames laboratoriais e radiografias convencionais
A realização de exames laboratoriais pode ser necessária para estabelecer o diagnóstico ou para excluir causas secundárias da perda óssea. A realização de radiografias convencionais pode identificar ou confirmar a existência de fraturas em mulheres com suspeita de fraturas osteoporóticas. No entanto, a radiografia é pouco fiável na avaliação da densidade óssea, pelo que é inadequada como meio de diagnóstico de osteopenia ou de osteoporose em mulheres sem fraturas.
Determinação da Densidade Mineral Óssea (DMO)
Os indivíduos identificados como tendo risco de desenvolver osteoporose devem efetuar a medição da DMO, a fim de se estabelecer o diagnóstico de osteopenia ou de osteoporose. O diagnóstico identifica candidatos para efetuar a terapêutica, embora a decisão de iniciar ou não a mesma esteja dependente de fatores de risco adicionais, da história familiar e da história prévia de fraturas.
De entre as diversas técnicas disponíveis para a determinação da DMO, as mais frequentemente utilizadas são:
- Absorciometria de raios-X de dupla energia (Dual Energy X-ray Absorptiometry - DEXA),
- Tomografia quantitativa computorizada (TQC),
- Ultrassonografia quantitativa (USQ).
*A DEXA é a técnica habitualmente preferida devido à sua ampla disponibilidade, elevada precisão e exactidão, capacidade de determinação da DMO numa grande diversidade de localizações e reduzida exposição a radiação. Esta técnica recorre a dois feixes de raios X com diferentes níveis de energia:
O de baixa-energia é atenuado essencialmente pelos tecidos moles produzindo apenas um pequeno sinal detectável.
O de alta-energia penetra nos tecidos moles e é atenuado essencialmente pelo osso, originando um sinal detectável mais forte.
Prevenção da Osteoporose
De acordo com a organização Mundial de Saúde (OMS), a prevenção da osteoporose define-se como a forma de impedir a perda de massa óssea na mulher recentemente menopausada e ainda sem osteoporose - ou seja, na mulher com valores do índice T (T-Score) da densidade mineral óssea (DMO) entre -1 e -2,5 (osteopenia) e com risco aumentado de fratura.
No entanto, num sentido mais lato, a OMS reconhece que a melhor forma de lidar com a osteoporose é através da sua prevenção logo desde o nascimento e ao longo da vida. Algumas intervenções para maximizar e preservar a massa óssea têm múltiplos efeitos benéficos na saúde.
Alterações na dieta e no estilo de vida - aumentar a ingestão de cálcio, deixar de fumar, reduzir o consumo de álcool (< 30 g por dia) - podem contribuir para prevenir a osteoporose e, potencialmente, diminuir de forma significativa a taxa de ocorrência de fraturas.
O exercício físico também contribui para aumentar a DMO durante o crescimento e minimizar a perda óssea numa idade mais avançada. Quanto mais precocemente se adaptar um estilo de vida saudável, maiores os ganhos em DMO. No entanto, as alterações são benéficas em qualquer idade.
Fatores de risco para a osteoporose
De acordo com Brown JP e Josse RG, os fatores de maior risco para a osteoporose são:
- Idade superior a 65 anos
- Fratura vertebral anterior
- Fratura de fragilidade depois dos 40 anos
- História de fratura da anca num dos progenitores
- Terapêutica corticóide (cortisona) por via oral ou injetável com mais de 3 meses de duração
- Menopausa precoce (< 40 anos)
- Hipogonadismo (déficit de hormonios sexuais)
- Hiperparatiroidismo primário
- Propensão para quedas aumentada
Fatores de risco não alteráveis:
Idade avançada
História de fratura em idade adulta
História de fratura em parente de 1º grau
Raça caucasiana
Sexo feminino
Demência
Mau estado geral de saúde
Fatores de risco alteráveis:
Fumador
Baixo peso corporal
Deficiência em estrogênios
Reduzida ingestão de cálcio/vitamina D
Alcoolismo
Visão diminuída
Quedas recorrentes
Atividade física inadequada
Mau estado geral de saúde
O risco associado a estes fatores de risco é aditivo, e quanto mais fatores de risco um indivíduo tiver, maior o risco de vir a sofrer fraturas osteoporóticas. A identificação dos indivíduos com risco mais elevado de desenvolver osteoporose e fraturas permite o diagnóstico precoce e, portanto, uma intervenção atempada.
Tratamento da Osteoporose
Existe atualmente uma grande diversidade de medicamentos úteis para a prevenção e tratamento da osteoporose pós-menopáusica (OPPM):
- Os bisfosfonatos, que inibem a reabsorção óssea, são os medicamentos mais utilizados, podendo ser administrados de forma intermitente.
- Os moduladores seletivos dos receptores de estrogênios (SERM's), que exercem no osso uma ação semelhante à dos estrogênios, inibindo a reabsorção óssea.
- A terapêutica hormonal de substituição (THS), que consiste na administração das hormonas sexuais femininas (estrogênios, progesterona) cuja produção diminui na menopausa
- As calcitoninas, que inibem a reabsorção óssea.
- Outros medicamentos que atuam no osso e no metabolismo ósseo.
O aumento da ingestão de alimentos ricos em cálcio e vitamina D, quando julgado necessário, de suplementos contendo estes nutrientes e o aumento do nível de atividade física complementam a terapêutica farmacológica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário