quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Cigarro Eletrônico

O que é o cigarro eletrônico?

O cigarro eletrônico, também chamado de e-cigarro, é um dispositivo movido à bateria, que simula a experiência de um cigarro comum, supostamente com menos riscos à saúde por conter apenas vapores de nicotina, sem o alcatrão nem as centenas de outras substâncias nocivas do cigarro. Porém, conforme explicaremos, ter menos risco não significa estar isento de riscos.


Os cigarros eletrônicos têm ganhado popularidade nos últimos anos, principalmente entre a população mais jovem e os fumantes que desejam uma forma menos nociva de consumir a nicotina. 


Mesmo no Brasil, onde o e-cigarro tem a sua comercialização proibida*, o produto tem gerado muita curiosidade e angariado adeptos, que adquirem o dispositivo através da Internet ou em viagens a países que permitem a sua venda, tais como Estados Unidos, França, Itália ou Portugal.

* No Brasil, a lei não permite a produção e a comercialização dos cigarros eletrônicos, mas o seu uso não é considerado crime.

Como é o cigarro eletrônico?

Os cigarros eletrônicos entraram no mercado em 2003, na China. Em 2006, eles chegaram aos Estados Unidos e à Europa. Na maioria dos países, os e-cigarros entram no mercado como produtos comuns, sem regulamentação do governo. Somente nos últimos anos, com a popularização do produto, é que os órgãos estatais de controle de vários países passaram a prestar mais atenção ao cigarro eletrônico.

Como é um cigarro eletrônico

Inicialmente, os cigarros eletrônicos eram produzido por pequenas empresas, mas já há alguns anos, de olho no rápido crescimento desses produtos, as grandes empresas de tabaco adquiriram e passaram a desenvolver também essa forma de cigarro.

Os cigarros eletrônicos consistem em:

  •     Um reservatório que contém um líquido, geralmente rico em nicotina.
  •     Um atomizador, que é o dispositivo responsável por aquecer o líquido e gerar o vapor.
  •     Um sensor que ativa o atomizador toda vez que o usuário faz uma inalação (alguns funcionam através de um botão).
  •     Uma bateria.
  •     Um recarregador de bateria.


O utilizador ativa o atomizador através da inalação ou ao apertar um botão, dependendo das características do dispositivo. O atomizador aquece o líquido no reservatório e cria uma fumaça de vapor, que se parece, mas não é igual à fumaça dos cigarros comuns. O cigarro eletrônico, portanto,  simula a experiência de fumar um cigarro convencional, mas sem combustão e sem a inalação de todas as substâncias tóxicas presentes no tabaco.

Os primeiros e-cigarros foram concebidos de forma a terem um design muito parecido com os cigarros convencionais, tanto em formato quanto em tamanho. Existiam até versões descartáveis, que não podiam ser recarregadas. O paciente fumava e jogava fora o e-cigarro quando o seu conteúdo acabava.

Com o passar dos anos, a tecnologia por trás dos cigarros eletrônico evoluiu. Atualmente, a maioria dos e-cigarros tem uma aparência mais parecida com a de uma grande caneta. Eles possuem baterias de longa duração, que podem ser recarregadas, reservatórios de líquido que podem ser reabastecidos, reguladores para controlar a quantidade de vapor e a temperatura do atomizador, luz LED e uma grande variedade de opções em relação a cores e aparência do e-cigarro, como pode ser visto na imagem mais abaixo.

Quais substâncias existem no líquido do e-cigarro?

Ao contrário dos cigarros convencionais, que queimam tabaco pra gerar fumo, os cigarros eletrônicos vaporizam um líquido, que alguns chamam de e-líquido, e-suco ou e-juice. Esse e-líquido é comprado à parte em pequenos frascos (chamados de refills), já havendo no mercado mais de 7000 variações de sabores.

Muitas pessoas acreditam incorretamente que esses e-cigarros produzem vapor de água, quando, na verdade, eles criam aerossóis que contêm substâncias químicas nocivas e partículas ultra-finas que são inaladas para os pulmões.

A maior parte dos líquidos à venda são compostos por nicotina (existem também e-líquidos sem nicotina), propilenoglicol (glicerol) e aromas. Porém, uma grande variedade de outras substâncias já foram identificadas, tais como estanho, chumbo, níquel, crômio, nitrosaminas e compostos fenólicos, alguns destes com potencial carcinogênico, conforme veremos mais à frente quando formos discutir os malefícios dos e-cigarros.

Diversas opções de cigarro eletrônico

O teor de nicotina contido no e-líquido costuma variar de 0 até 36 mg/mL. As concentrações mais comuns são as de 6 mg/mL, 12 mg/mL, 18 mg/mL ou 24 mg/mL.



Porém, estudos têm mostrado que o teor de nicotina atestado pelos fabricantes nem sempre é confiável, sendo frequentemente maior do que aquele indicado nos rótulos. Há inclusive e-líquidos que dizem ser livres de nicotina, mas que ao serem analisados, apresentavam nicotina no seu conteúdo.

Quais são os malefícios do cigarro eletrônico?

Se por um lado parece ser verdade que o cigarro eletrônico é menos prejudicial que os cigarros convencionais, também é verdade que eles não são de forma alguma produtos isentos de riscos à saúde.

*Por ser um produto relativamente novo e que passou a receber atenção dos órgãos governamentais somente recentemente, não há ainda grandes estudos científicos sobre as consequências do uso prolongado do e-cigarro. Apesar de teoricamente ser mais seguro que o cigarro comum, não há evidencias científicas que confirmem essa suposta maior segurança. 

Esse é o motivo pelo qual países como Brasil, Áustria, Argentina, Canadá e Colômbia não permitem a sua comercialização. Outros, como Austrália, Dinamarca, Bélgica e Austrália só permitem a venda de cigarros eletrônicos sem nicotina.

*Mas as preocupações com o cigarro eletrônico não estão apenas relacionadas à falta de estudos a longo prazo. Algumas das substâncias presentes no e-líquido são sabidamente nocivas.

Nicotina

A nicotina, por exemplo, é uma substância, que além de altamente viciante, também causa danos à saúde. Pessoas que fumam cigarros eletrônicos conseguem inalar quantidades de nicotina muito parecidas com aquelas inaladas nos cigarros comuns.


A nicotina está relacionada, entre outros efeitos, a um aumento do risco de eventos cardiovasculares, a atraso no desenvolvimento fetal, maior risco de aborto espontâneo, maior risco de parto prematuro e a alterações no desenvolvimento cerebral de jovens e adolescentes.

O consumo agudo de doses elevadas de nicotina tem potencial de intoxicação, provocando sintomas que vão desde náuseas e vômitos até convulsões e depressão respiratória, nos casos mais graves. Isto é particularmente verdadeiro em crianças, cujo limiar para intoxicação por nicotina é bem mais baixo que nos adultos. Já há casos, inclusive, de crianças que morreram por envenenamento após usarem os e-cigarros dos pais. Só para se ter uma ideia do risco, a dose de nicotina considerada potencialmente fatal para uma criança é de 10 mg. Um refill comum de 5 mL de e-líquido na concentração de 18 mg/dL possui 90 mg de nicotina, 9 vezes mais que a dose potencialmente fatal.

Como muitos cigarros eletrônicos são ativados pela inalação, é muito fácil para uma criança, querendo imitar os pais, conseguir fumar um cigarro eletrônico. Esse é um dos motivos pelo qual alguns países estão exigindo que os e-cigarros venham com algum tipo de lacre de segurança contra o uso acidental por parte das crianças.

Substâncias carcinogênicas


Testes laboratoriais realizadas em 2009 pelo FDA (o órgão norte-americano equivalente à ANVISA) identificaram produtos químicos cancerígenos e tóxicos, incluindo ingredientes usados como anti-congelante, em 20 marcas de e-cigarros, sendo duas delas entre as líderes de vendas no mercado.

Pouco se sabe sobre a segurança geral ou os efeitos carcinogênicos do propilenoglicol ou glicerol quando aquecido e aerossolizado. Em altas temperaturas, o propilenoglicol se decompõe e pode formar óxido de propileno, um provável carcinógeno humano. 

O glicerol produz a toxina acroleína, embora os níveis produzidos sejam menores que os cigarros convencionais. Tanto o propilenoglicol como o glicerol se decompõem para formar os carcinógenos formaldeído e acetaldeído, com níveis que dependem da voltagem da bateria usada no e-cigarro. 

Um estudo de 2014 descobriu que o aerossol produzido a partir dos cigarros eletrônicos com maior potência do atomizador continha grandes quantidades de formaldeído e acetaldeído.

Outras substâncias perigosas

Os sabores artificiais dos cigarros eletrônicos são também uma fonte de preocupação, não só porque eles servem para atrair o público mais jovem, mas porque eles próprios podem ser nocivos. Os fabricantes dos e-cigarros dizem que os aromas artificias são seguros, pois eles são os mesmos utilizados nos alimentos industrializados. O problema, porém, é que a segurança destes aromatizantes só foi estudada em relação à ingestão. Não sabemos se a vaporização e a inalação destes produtos é segura.


Além disso, algumas marcas de cigarro eletrônico utilizam o diacetil, que é um produto químico com sabor amanteigado, frequentemente presente nas pipocas de microondas, que estão associados a uma grave e irreversível lesão do pulmão, vulgarmente conhecida como “pulmão da pipoca” ou “doença da pipoca de micro-ondas”.

Estudos em animais e em laboratórios sugerem que mesmo os cigarros eletrônicos sem nicotina podem fazer mal aos pulmões. Esses trabalham mostraram que o vapor inalado irrita as células e atrapalha o bom funcionamento dos tecidos e cílios do tecido da árvore respiratória.
Cigarro eletrônico como tratamento para parar de fumar

Como o cigarro comum é um dos mais nocivos produtos de livre comercialização já criados, é natural que, mesmo com todos os problemas, os cigarros eletrônicos ainda consigam ser menos maléficos à saúde.

Algumas das vantagens dos cigarros eletrônicos em relação ao cigarro tradicional são:

    Exposição a menos substâncias químicas tóxicas, ainda que haja substâncias tóxicas no e-cigarro.
    Não deixa os dentes amarelados.
    Não provoca mau cheiro.
    É menos poluente.
    É mais barato.
    O fumo passivo parece ser menos tóxico.
    Parece haver um menor risco de doenças pulmonares, apesar de haver riscos.



Ainda que existam algumas vantagens, por tudo o que foi exposto até aqui, a imensa maioria dos médicos e das associações médicas não recomenda o cigarro eletrônico como forma de tratamento para o tabagismo por conta de 4 problemas:

1- Os cigarros eletrônicos aparentemente não são produtos isentos de toxicidade. Há opções mais seguras e com maior embasamento científico, como fármacos e chicletes ou adesivos de nicotina.

2- As pessoas que usam o e-cigarro até diminuem o consumo de cigarros tradicionais, mas um estudo de 2013 mostrou que 77% dos usuários do cigarro eletrônico continuam a fumar cigarros comuns. Em muitos casos, o consumo de nicotina não é reduzido e o paciente continua tão viciando quanto antes.

3- Não há conhecimento científico adequado sobre esse produto. Não sabemos se a longo prazo o cigarro eletrônico é realmente mais seguro que os cigarros convencionais.

4- O estímulo ao uso do cigarro eletrônico pode, após anos de queda consistente, devido às campanhas anti-tabágicas, provocar um aumento no número de pessoas viciadas em nicotina. A falsa impressão de segurança pode fazer com que o número de fumantes volte a crescer. Há estudos que mostram que ex-fumantes, que tinham parado completamente de fumar cigarros comuns, voltaram a fumar, agora com cigarros eletrônicos.

Do ponto de vista de saúde pública, a popularização do cigarro eletrônico pode significar um passo atrás no controle do tabagismo. Já há, inclusive, pessoas que querem fumar o e-cigarro em locais fechados, pois acham que o fumo passivo deste tipo de cigarro é seguro.

O que sabemos até o momento

    Usar e-cigarros é provavelmente menos prejudicial à saúde do que fumar cigarros convencionais, mas não sabemos exatamente o quão seguros eles são para os fumantes ativos e passivos.
    O cigarro eletrônico mantém a exposição do usuário à nicotina, muitas vezes em níveis semelhantes ao do cigarro comum. A nicotina é uma substância altamente viciante, mas o seu consumo a longo prazo não parece elevar o risco cardiopulmonar nem de câncer.
    As consequências para a saúde da exposição ao vapor do e-líquido ainda são desconhecidas, mas os estudos iniciais apontam para alterações na função respiratória. Essas alterações, porém, parecem ser menos graves que aquelas provocadas pelo cigarro comum.



Fonte: MD Saúde

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