quarta-feira, 24 de julho de 2019

Extração de óleo de palma por multinacionais de alimentos está devastando floresta na Indonésia

A gordura extraída da palma é o óleo de origem vegetal mais consumido no mundo. Ainda que a versão “crua” do produto, chamada de azeite de dendê, seja mais popular no Brasil por conta de seu uso na culinária, a lista de aplicações na indústria é que absorve a maior parte da demanda. Para servir à composição de margarinas, chocolates, biscoitos e também fazer parte de cremes e produtos de higiene, o óleo de palma precisa ser refinado por meio de branqueamento, processo que retira sua cor e odor.


Por ano, são produzidas mundialmente 72 milhões de toneladas, destinadas sobretudo ao setor alimentício, à produção de cosméticos e ao ramo de biocombustíveis, que vêm ganhando importância nos últimos anos.

O Brasil ocupa hoje a décima posição do ranking mundial de produtores


A palmeira de óleo (Elaeis guineensis) é nativa da costa oeste da África. Outra variedade da planta, comumente utilizada em espécies híbridas, é a Elaeis oleifera, que ocorre nas Américas do Sul e Central. 

São duas nações asiáticas, porém, que concentram sozinhas mais de 80% da produção mundial. Em comum, Indonésia e Malásia têm clima e regime de chuvas semelhantes, além de ampla cobertura vegetal nativa. Essa vegetação tropical característica possibilitou que a cultura da palma de óleo obtivesse sucesso também no bioma amazônico.

No Brasil, é o Pará, que mais contribui para a produção nacional - e também vem sendo mais impactado pelo avanço do cultivo. A literatura científica aponta que o estado reúne fatores climáticos ideais, como umidade entre 75% e 90%, média anual de chuvas na casa dos 2.500 milímetros e temperatura entre 24ºC e 28ºC. 


Segundo a Abrapalma (Associação Brasileira de Produtores de Óleo de Palma), mais de 85% da produção está concentrada no Pará, onde existem 207 mil hectares de palma de óleo. Entre empregos diretos e indiretos, estima-se que a produção de óleo de palma no território paraense seja responsável por até 80 mil postos de trabalho. O restante é distribuído, principalmente, entre Bahia e Roraima. 

ALERTA MUNDIAL SOBRE A EXTRAÇÃO DO ÓLEO DE PALMA




A denúncia da ONG Rain Forest foi tratada com um tom ponderado pela reportagem do jornal britânico “The Guardian”. Trata-se de um novo estudo que acusa as multinacionais Pepsico, Unilever e Nestlé de serem cúmplices na destruição do último trecho da floresta de Sumatra, na Indonésia, compartilhado por elefantes, orangotangos, rinocerontes e tigres juntos em um único ecossistema. O motivo do desmatamento é a exploração do óleo de palma, óleo vegetal extraído da fruta encontrada nas palmeiras (Elaesis guineensis), com baixo custo de produção e que serve para dar maciez e facilitar a conservação de metade das comidas industrializadas.

A questão, como bem devem saber os leitores comprometidos com as causas socioambientais e econômicas sobre as quais busco refletir neste espaço, não é apenas o fim de espécies da fauna importantes para a sobrevivência da humanidade no planeta. O texto que apresenta a pesquisa no site da Rain Forest dá conta, ainda, de que a exploração do óleo de palma em todas as regiões do planeta é responsável por violações dos direitos humanos, “uma vez que as empresas muitas vezes removem violentamente os povos indígenas e as comunidades rurais de suas terras. O trabalho infantil e a escravidão moderna também ocorrem em plantações na Indonésia e na Malásia”.

Apesar do movimento dos ambientalistas no sentido de chamar a atenção para a necessidade de conter a produção e o consumo do óleo de palma, a demanda está subindo rapidamente em todo o mundo. Em parte para substituir as polêmicas gorduras trans (transformação do óleo vegetal em gordura sólida), o uso do óleo de palma teve um pico recente de uso pela indústria de lanches dos Estados Unidos. A Rain Forest, com o lançamento do estudo, pretende mudar radicalmente o consumo desta commodity, que já usa 27 milhões de hectares de terra em todo o planeta e emprega cerca de 3,5 milhões de pessoas, muitas vezes com práticas trabalhistas exploradoras para diminuir o custo.

“A produção do óleo de palma é hoje uma das principais causas da destruição mundial de florestas tropicais, além de ser um dos principais impulsionadores das mudanças climáticas induzidas pelo homem. Estamos exigindo que essas grandes marcas se comprometam a usar somente óleo de palma responsável, produzido sem causar a destruição de florestas tropicais, ricas em carbono ou abuso de direitos humanos”, diz o texto do estudo.

Dados de consumo de óleo de palma 

Um artigo da professora de Física e Química Agnes Pierret, escrito para o site da Fundação do ator norte-americano Ian Somerhalder explica que a demanda crescente no consumo global de óleo de palma pode chegar a 40 milhões de toneladas em 2020, comparado com 22.5 milhões de toneladas em 2010.

“Quase todo o estoque de óleo de palma é produzido e exportado da Malásia, Indonédia, Borneo e Sumatra. O que significa que vastas áreas de florestas tropicais nessas regiões já foram cortadas, sendo que 90% foram cortadas entre os séculos 19 e 20. Hoje, este desmatamento continua devido às plantações de árvores de óleo de palma”.



Não seria assim tão forte a demanda, se não tivéssemos poucas corporações gigantes e multinacionais controlando a agricultura. É um jogo perigoso, porque envolve lucro, poder político (há deputados ligados ao agronegócio que influenciam as leis). No final dessa rede, a saúde dos humanos. Algumas dessas empresas estão avançando, conseguem ao menos um nível de compromisso mais responsável e consciente na extração e produção do óleo de palma.  Mas muitas empacam no método de sempre (business as usual), sem levar em conta os conflitos sociais e a destruição ambiental causados pela atividade.

A Rain Forest está encabeçando uma campanha maciça, incentivando que os cidadãos façam contato de alguma forma – via telefone ou redes sociais – com as empresas ligadas ao processo. A ideia é criar uma espécie de rede universal contra o abuso da produção e consumo do óleo de palma que, segundo Agnes Pierret, além de destruir o meio ambiente e acabar com o habitat de bichos importantes, também faz mal à saúde dos humanos:


“Estudos têm revelado que, comparado ao óleo de palma fresco, o óleo de palma oxidadoque é usado pela indústria alimentícia - induz um perfil lipídico adverso, 


  • ácidos graxos livres, fosfolipídios e cerebrosídios. 
  • O óleo de palma oxidado também pode causar toxicidade nos órgãos, principalmente nos rins, pulmões, fígado e coração. 
  • As provas disponíveis sugerem que pelo menos parte do impacto do óleo de palma oxidado na saúde reflete a geração de toxinas devido à oxidação”.

Uma carta endereçada a Indra Nooyi, CEO da Pepsico, apontada pela Rain Forest como a companhia que mais violentamente utiliza o óleo de palma para os lanches que distribui mundialmente através de marcas famosas, abre o relatório. Não é a primeira vez que a empresa é criticada por essa produção. Em 2015, depois de receber críticas, ela reviu a política e no ano seguinte encaminhou relatórios mostrando que já tinha melhorado bastante. Mas se esqueceu de exigir da Indofood, o gigante indonésio de comida, parceira de jointventure, os mesmos procedimentos:

“Você é o Administrador desta empresa, e você tem a capacidade de realinhar as operações atuais com os objetivos que você aspira alcançar. Os desafios são claros: você vai parar de colocar lucros antes das pessoas e do planeta? Você vai ficar sentado enquanto seu parceiro de negócios, a Indofood, continua a explorar os homens, mulheres e crianças em suas plantações na Indonésia?”, pergunta Lindsey Allen, diretora da Rain Forest.

À reportagem do “The Guardian”, um representante da empresa disse que essa questão é levada a sério e que “investimentos significativos estão sendo feitos para melhorar todos os aspectos da nossa cadeia de abastecimento de óleo de palma”. A seguir, responsabiliza  fornecedores  e diz que tem certeza de que eles estão tomando medidas corretivas para resolver a questão.

Outras empresas envolvidas foram ouvidas e deram suas explicações, listaram atitudes que serão tomadas de agora em diante. Fato é que a responsabilidade também é de quem consome esses produtos e, pela demanda,  estimula a produção cada vez maior deles. Pode ser difícil de identificar, diz o relatório, mas é praticamente certo de que em cada casa haja óleo de palma encontrado em alimentos tipo snack, em produtos de cozinha, nos detergentes, shampoos, pasta de dente, loções, cosméticos. É possível pesquisar e tentar consumir apenas de empresas que levam a sério a responsabilidade com a commoditie.


******************************************************************

 236 mil Hectares é a área de palma de óleo plantada no Brasil


 A alta adesão da indústria à gordura de palma pode ser explicada por características como a elevada resistência à oxidação, ideal a aplicações em alimentos, além de um preço que se tornou mais acessível nos últimos anos.

  •  Em 2014, a tonelada custava, em média, US$ 796.
  •  Atualmente, vale US$ 652. Soma-se à lista, também, a alta produtividade. 
⇒Não existe no mundo planta oleaginosa comercial mais rentável que o dendê:
  •  um hectare (ha = 10 mil m²) pode gerar cinco toneladas de óleo por ano. 
  • A mamona e a soja, outras duas culturas amplamente empregadas na extração de óleos, têm rendimento de 700 kg/ha e 500 kg/ha, respectivamente. 
  • Em 2016, o total de óleo de palma produzido no Brasil chegou a 346 mil toneladas, e outras 192 mil foram importadas.
  •  Para 2018, estima-se que a produção nacional supere a marca de meio milhão de toneladas. Ao Nexo, a Abrapalma disse existir a perspectiva de que o Brasil atinja a autossuficiência, ou seja, supra as demandas internas por completo, já a partir deste ano.

Questões sociais

 De acordo com a Agropalma, “a área cultivada inclui agroindústrias, pequenos e médios proprietários, agricultores familiares e integrantes da reforma agrária”. Por conta dessa confluência de interesses, a expansão da palma pode aparecer associada a questões como demanda por terras, conflitos fundiários e sociais.

Conforme o Greenpeace vem denunciando, a extração do produto na Indonésia é o principal vetor de destruição das matas do país e da liberação de gases de efeito estufa

Curiosidade

 Em 2015 Ministra de Ecologia da França afirmou em um programa de TV que os franceses deveriam parar de consumir Nutella devido ao impacto ambiental de sua produção. Isso gerou um certo mal estar com o Ministro das Relações Exteriores da Itália, afinal, a Ferrero é Italiana.


 Vídeos sobre  assunto:




FONTES: 

NEXO JORNAL LTDA
https://www.greenpeace.org/brasil/blog/oleo-de-palma-o-daqui-e-sustentavel/
http://g1.globo.com/natureza/blog/nova-etica-social/post/extracao-de-oleo-de-palma-por-multi-de-alimentos-esta-devastando-floresta-na-indonesia.html



Nenhum comentário:

Postar um comentário