Plataforma de monitoramento da situação indígena na pandemia do novo coronavírus (Covid-19) no Brasil.
É muito triste a situação de nossos índios neste momento de pandemia. Eles são muito vulneráveis em uma epidemia ou pandemia. pelas condições em que vivem e longe da cidade.
É muito triste a situação de nossos índios neste momento de pandemia. Eles são muito vulneráveis em uma epidemia ou pandemia. pelas condições em que vivem e longe da cidade.
O acompanhamento da evolução do novo coronavírus entre as populações indígenas representa um grande desafio. Embora os números oficiais informem sobre a dinâmica de notificação, eles não refletem necessariamente a extensão da pandemia. Ademais, a falta de desagregação dos dados dificulta o reconhecimento das regiões e dos povos mais afetados.
Outras fontes de dados precisam ser consideradas. Para um melhor detalhamento da dimensão da epidemia entre os indígenas, estamos disponibilizando dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). http://quarentenaindigena.info/casos-indigenas/
A evolução dos casos também tem sido acompanhada por meio dos dados da iniciativa do site Brasil.io, que compila informações para todo Brasil com base nos boletins das Secretarias Estaduais de Saúde sobre a Covid-19.
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)
Diante da subnotificação dos casos indígenas pelos dados oficiais a Apib vem realizando um levantamento independente dos casos. Os números são superiores aos notificados pela Sesai, que tem contabilizado somente casos em terras indígenas homologadas.
⇒A compilação de dados da Apib tem sido feita pelo Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena e pelas Organizações indígenas de base da APIB.
Outras frentes de enfrentamento à Covid-19 organizadas no Brasil também têm colaborado com a iniciativa. Diferentes fontes de dados têm sido utilizadas nesse esforço, além da própria Sesai, o comitê tem analisado dados das Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde e do Ministério Público Federal.
↪Link do site atualizado diariamente com os dados indígenas de COVID19 http://quarentenaindigena.info/casos-indigenas/
Desafios da Saúde Indígena
Povos indígenas e a vulnerabilidade ao novo coronavírus
Indígenas e não indígenas estão imunologicamente suscetíveis a vírus que nunca circularam antes, como é o caso do novo coronavírus causador da Covid-19.
Diferentes estudos atestam, no entanto, que povos indígenas são mais vulneráveis a epidemias em função de condições sociais, econômicas e de saúde piores do que as dos não indígenas, o que amplifica o potencial de disseminação de doenças.
Condições particulares afetam essas populações, como:
- a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, seja pela distância geográfica, como pela indisponibilidade ou insuficiência de equipes de saúde.
O subsistema do Sistema Único de Saúde- SUS criado para atender a saúde indígena sofre com a falta de estrutura e de recursos para tratamento de complicações mais severas como a Covid-19. Além disso, os modos de vida de muitos povos criam uma exposição às doenças infecciosas a qual as pessoas nas cidades não estão submetidas. Grande parte dos povos indígenas vive em casas coletivas, e é comum entre muitos deles o compartilhamento de utensílios, como cuias, tigelas e outros objetos, o que favorece as situações de contágio.
O Subsistema de Saúde Indígena
Desde a criação da Fundação Nacional do Índio (Funai), em 1967, diferentes instituições e órgãos governamentais se responsabilizaram pelo atendimento das populações indígenas.
Em 1999, essa política mudou, resultando na criação do subsistema de saúde indígena do Sistema Único de Saúde, organizado em 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei).
Em 2010, graças à pressão do movimento indígena, foi criada a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde.
Os DSEIs são responsabilidade da Sesai, e foram delimitados a partir de critérios epidemiológicos, geográficos e etnográficos.
- Nos DSEIs são realizados atendimentos de baixa complexidade.
- As ocorrências de alta complexidade ficam a cargo de hospitais regionais, implicando, para isso, um aparato para remoção dos doentes.
- Os DSEIs ainda possuem unidades menores, os Polo Base, subdivisões territoriais que funcionam como suporte para as Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena se organizarem técnica/administrativamente.
- Para atendimento dessa população existem 528 unidades básicas de saúde indígenas, segundo dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde.
"Estou há 4 meses longe dos meus filhos": indígena não consegue retornar a aldeia por causa de coronavírus
Vinícius Lemos
Da BBC News Brasil em São Paulo
Há quatro meses, a indígena Margarida Maia, do povo tukano, conversa com os filhos apenas por meio do celular. Mãe solo, ela se preocupa diariamente com os jovens e revela que sente saudades dos abraços e do contato físico com eles. É o período mais longo que já passou longe dos filhos, uma garota de 13 anos e um garoto de 10.
No início de fevereiro, Margarida, de 38 anos, deixou a sua aldeia e seguiu para a área urbana de São Gabriel da Cachoeira, no interior do Amazonas. Representante de uma associação de mulheres, ela planejava passar pouco mais de um mês longe de casa. Até hoje, porém, ainda não conseguiu retornar para a aldeia.
"Estou com muitas saudades dos meus filhos, porque somos muito apegados. Sou pai e mãe para eles. Eles sempre me perguntam quando volto para casa", diz Margarida à BBC News Brasil.
Desde meados de março, São Gabriel da Cachoeira, considerado o município mais indígena do país (76% de seus moradores são indígenas, segundo o Censo de 2010), passou a adotar medidas de controle de circulação de pessoas. A principal preocupação na cidade era evitar que a covid-19 se espalhasse nas aldeias.
O acesso às terras indígenas do município passou a ser limitado, após pedido de lideranças locais e especialistas na área da saúde. A entrada de não indígenas nas comunidades da região do Alto Rio Negro, onde está localizada a aldeia de Margarida, foi suspensa.
Mas as medidas para conter o avanço do novo coronavírus em São Gabriel da Cachoeira, cidade localizada na fronteira do Brasil com a Colômbia e a Venezuela, não foram suficientes para evitar a propagação do vírus na área urbana e nas aldeias da região.
No município de 45 mil habitantes, mais da metade deles vivendo fora da cidade, há mais de 2,5 mil casos de covid-19 e 43 mortes confirmadas até quarta-feira (24).
Em todo o Amazonas, mais de mil indígenas já foram infectados pelo novo coronavírus. Entre os povos indígenas de todo o Brasil, há mais de 4,4 mil casos do novo coronavírus confirmados e 125 mortes, segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
Os números nas aldeias, porém, segundo especialistas, é ainda maior. Isso porque a escassez de testes faz com que muitos indígenas, mesmo com sintomas, não sejam diagnosticados com a covid-19.
O retorno para casa
Desde fevereiro, Margarida está na casa de uma de suas irmãs. Ela tem aproveitado o período na cidade para resolver outras questões da associação e para buscar formas de ajudar as comunidades de sua região em meio à pandemia. "Tenho buscado regularizar algumas situações da associação e tenho escrito novos projetos. É uma forma de tentar aproveitar o meu tempo na cidade", diz.
Enquanto aguardava uma definição sobre o seu retorno à aldeia, Margarida teve de lidar com outra doença infecciosa que até o início deste ano era uma das mais comuns em São Gabriel da Cachoeira: a malária. "Acredito que fui picada quando fui à casa de uma amiga na cidade. Lá tem muitos mosquitos", afirma.
"Sempre houve muitos casos de malária e dengue aqui na cidade. Essas eram as principais preocupações. Mas agora até esqueceram um pouco, por causa do coronavírus", diz Margarida.
Ela apresentou sintomas como febre e dores no corpo. "Pensei que era a covid-19, mas fiz os exames e descobri que era malária", conta. A indígena afirma que tem se recuperado bem.
Mesmo doente, ela não parou de buscar formas para ajudar as mulheres de sua comunidade. Em meio à pandemia, muitas delas que trabalham como artesãs perderam a única fonte de renda, em razão do isolamento social. "Tem muitas famílias passando dificuldades nas aldeias", lamenta.
Margarida conseguiu, no departamento de mulheres da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), 50 cestas básicas para as mulheres de sua região. "É uma ajuda muito importante neste momento", diz. Os donativos deverão ser entregues no próximo fim de semana. Na data, a indígena pretende acompanhar a embarcação e retornar para casa.
Ela tem contado as horas para voltar para perto dos filhos. Esta é a primeira vez que a indígena passa mais de um mês longe deles. "Já fiz outras viagens, mas nunca pensei em ficar tanto tempo longe, ainda mais durante uma pandemia. Fico preocupada se eles estão bem", conta.
Os pais dela, que têm 78 anos, estão cuidando dos netos. "Eu sei que meus filhos estão em boas mãos. Mas também fico preocupada com meus pais, porque são idosos e hipertensos. Todos os dias ligo para uma irmã que mora na aldeia para perguntar como estão as coisas."
Ao retornar para a aldeia, ela pretende procurar a equipe médica do Distrito Sanitário Especial Indígena da região. "Vou conversar com os profissionais de saúde e vou ficar em isolamento. Se possível, farei o teste para a covid-19", comenta.
Apesar das dificuldades dos últimos meses, Margarida afirma que os meses em que permaneceu na cidade se tornaram importantes. "Ao menos pude conquistar coisas para a associação e ajudar outras pessoas, como por meio das cestas básicas. Se estivesse na aldeia, não poderia ajudar tanto nesse período", declara.
A associação para as mulheres indígenas foi fundada há mais de 25 anos. Margarida conta que uma das coisas que a motiva a seguir com a iniciativa é uma frase que escutou da fundadora da entidade, anos atrás. "Ela me disse que todo o trabalho que tenho feito é para o bem das mulheres indígenas, porque elas precisam ter voz. Isso me incentiva muito", comenta.
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