segunda-feira, 29 de junho de 2020

Cataclismo Biológico - epidemias na história indígena

Os nossos índios sofreram com as epidemias ao longo da história da colonização, que vai até os dias atuais. Esse cataclismo mostra ao longo do tempo a história das epidemias e os índios.

Cataclismo biológico- foi uma expressão utilizada pelo antropólogo Henry F. Dobyns para descrever o efeito das epidemias trazidas pelos invasores europeus nas populações ameríndias. Colocar todos os episódios de epidemias em uma linha do tempo seria uma tarefa quase impossível. Para a maioria delas, variam as datas, os registros e a quantidade de vítimas.


Essa linha do tempo reproduz alguns desses eventos, um alerta para a vulnerabilidade histórica das populações indígenas a agentes biológicos importados para seus territórios.

1554
A primeira grande epidemia


Uma das primeiras grandes epidemias aconteceu em 1554. "Com estes que fizemos cristãos saltou a morte de maneira que nos matou três Principais e muitos outros índios e índias" escreveu um jesuíta na época (Monteiro, 1995:21).


1560
Epidemias devastam aldeamento de São Vicente


Entre 1560 e 1563 surtos de sarampo e varíola atingiram as populações indígenas em São Vicente. Segundo Monteiro (1995), "os jesuítas temiam pela sobrevivência dos aldeamentos, frequentemente assolados por surtos e contágios". Em 1563, o padre baltasar Fernandes descreve com bastante espanto uma epidemia que atingia os aldeamentos.



1562
Varíola e Sarampo dizimam os primeiros aldeamentos na Bahia

Entre 1562 e 1564, aldeias jesuítas da Bahia foram dizimadas por epidemais de varíola e sarampo. A aglomeração dos indígenas nos aldeamentos facilitou o contágio. Segundo Carneiro da Cunha (1994), as pessoas morriam sobretudo de fome e sede, já que, acometidas pela doença ao mesmo tempo, não havia quem alimentasse os doentes.


1618
Epidemia atingem aldeamentos na região de Guairá

Aldeamentos que já sofriam com ataques de bandeiras paulistas sofrem com uma grande epidemia em 1618.


1624
Indígenas escravizados sofrem com epidemias em São Paulo


Outras epidemias foram registradas em 1624, 1630 e 1635, relacionando-se com a chegada de grandes contingentes de cativos guarani



1631
Região entre os rios Paraná e Paraguai


Em 1631, uma violenta epidemia atingiu a região entre os rios Paraná e Paraguai. Neste ano, o Padre Diego Salazar escreveu que os graves contágios que se espalhavam pelas reduções "povoou o céu de novos cristãos" (Monteiro, 1995:37)



1647
Epídemia de varíola mata um terço dos Omágua no Solimões


Antes mesmo que os portugueses se fixassem no território Omágua, uma epidemia já havia dizimado boa parte de sua população. As informações estão em um relato de Laureano de La Cruz.


1740
Epidemia de varíola devasta o Alto Rio Negro após contato com portugueses


Em consequência do contato com os portugueses, uma epidemia de varíola devastou o Alto Rio Negro em 1740, matando grande número de índios. É muito provável que ela tenha se alastrado por certas partes da região sem contato direto com os "brancos", por meio de tecidos e roupas de algodão.


1749
Indígenas do RIo Negro sofrem novamente com epidemia


Entre 1749 e 1763, epidemias recorrentes de varíola e sarampo continuaram assolando a região, sendo que a de sarampo de 1749 foi tão terrível que passou a ser chamada "o sarampo grande". Trocano em frente à maloca tukano de Pari-Cachoeira, no Rio Tiquié.


1788
Aldeamento Xavante é castigado pelo sarampo


Em 1788, os Xavante sofreram com uma epidemia de sarampo que matou mais de 100 pessoas. A doença veio depois de serem aldeados na área conhecida como Carretão. (Karasch 1992)


1826
Guató perderam 98% de sua população


Hércules Florence descreveu uma população de dois mil Guató vivendo no alto Paraguai em 1826. Anos depois, em 1901, Max Schmidt registra uma população de 46 indíviduos vivendo na mesma região. As mortes seriam consequência de epidemias de varíola (Carvalho 1992 :466).



1849
Krahô perdem 40% de sua população para epidemias


Os Krahô foram aldeados em 1849 com o objetivo de liberar áreas para a ocupação colonial. De mais de mil indígenas, em 1852 somente 620 haviam sobrevivido às epidemias. (Karasch 1992:.408)


1861
Cólera mata metade da população Funil-ô


Os Funil-ô, que em 1855 eram 738, em 1861 estavam reduzidos a 382 pessoas. A maioria das pessoas morreu em consequência de uma epidemia de cólera.


1880
Sarampo fustiga população Wapichana na região do rio Branco.


Uma epidemia iniciada no Rio Negro se disseminou no Rio Branco trazida pelos índios que fugiam dos batelões em quarentena. O povo wapichana foi um dos principais atingidos (Farage e Santilli 1992).


1912
Gripe deixa população kaingang de São Paulo à beira da extinção

No início do século XX, as frentes de expansão cruzaram os territórios dos Kaingang no Estado de São Paulo. Uma estrada de ferro começou a ser construída rumo ao sertão no território desse povo. Horta Barboza registra que metade dos Kaingang paulistas morreu de uma epidemia de gripe logo após os primeiros contatos entre 1912 e 1913.


1940
A extinção dos Ira'a Mrayre (Pau d'Arco)

Os Ira'a Mrayre, conhecidos também como Pau d'Arco, eram em torno de mil pessoas em 1909. Vitimados por uma epidemia, tiveram os últmos sobreviventes mortos em 1940. Turner p.319

*nao tem imagem

1945
Doenças respiratórias devastam os Umutina

O povo Umutina experimentou uma rápida de população a partir do processo de contato. Em 1862 eram 400 indivíduos, já em 1911, depois de serem "pacificados", sua população se reduziu para 300 pessoas. Em 1923 eram 120 pessoas, vinte anos depois, 43. Em 1945, uma violenta epidemia de coqueluche e bronco-pneumonia reduziu seu número para 15 indivíduos.





1955
Epidemias reduzem em 97% população Tupari

No início do século havia três mil Tupari. Em 1934, quando receberam a visita do antropólogo Snethlage, havia somente 250 indivíduos. Em 1948, segundo Franz Caspar, havia 200 e, em seu retorno em 1955 (meses após uma epidemia de sarampo), apenas 66.




1960
Povo Aikewara perde dois terços de sua população


Os Aikewara tiveram contato definitivo com os brancos em 1960. Nesse período, uma epidemia de gripe matou dois terços de sua população, reduzindo-a de 126 para 40 pessoas. Em 1962, uma epidemia de varíola matou mais seis pessoas.



1974
Construção de rodovia espalha epidemias entre os Yanomami


Durante a construção da Perimetral Norte, entre 1974 e 1975, doenças infecciosas mataram 22% da população de quatro aldeias no caminho das obras (Ramos 1979). Dois anos depois, uma epidemia de sarampo matou metade da população de outras quatro comunidades. No rio Apiaú, leste do território Yanomami, estima-se que cerca de 100 índios teriam morrido na década de 1970, restando apenas 30 sobreviventes.




1977
Araweté perdem metade de sua população depois do contato


Em 1977, após 'contato' com a Funai, a população arawaté foi reduzida quase pela metade pelas epidemias, indo de 200 para 120 pessoas. De várias aldeias na margem direita do Xingu, só sobrou
uma.


1987
Invasão garimpeira causa epidemias e morte entre os Yanomami


Entre 1987 e 1990, cerca de mil Yanomami morreram em consequência de epidemias trazidas por uma corrida do ouro que tomou conta do território Yanomami.


2000
Doença evitável atinge 80% dos Araweté


Em 2000 uma epidemia de varicela, doença evitável por vacina, atingiu 80% da população araweté, resultando em nove mortes.

2020 
Pandemia do COVID-19 , até o momento já morreram 332 índios de diversas aldeias. 



 
Fonte: https://covid19.socioambiental.org/

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