quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Alergia à proteína do leite de vaca - APLV

 Alergia à proteína do Leite de Vaca -APLV  não é o mesmo que Intolerância à Lactose, sabia a diferença no texto abaixo.

A APLV é diferente da intolerância à lactose e o seu tratamento também (quadro 1).



*A alergia é uma reação do sistema de defesa do organismo às proteínas, proteínas dos alimentos, de ácaros, de pólen, de pelo de animais, etc. Portanto, a APLV é uma reação às proteínas do leite (ex: caseína, alfa-lactoalbumina, beta-lactoglobulina).



A intolerância é decorrente da dificuldade do organismo em digerir à lactose, açúcar do leite, devido à diminuição ou da ausência de lactase, enzima que a digere. A expressão “alergia à lactose” é errada e não existe, pois a alergia é uma reação à proteína e a lactose é um açúcar. O correto é Intolerante à lactose devido a falta ou diminuição da da enzima lactase

A ocorrência de alergia alimentar vem aumentando no mundo como um todo. Estima-se que a prevalência de alergias alimentares em geral seja em torno de 6% em crianças menores de 3 anos e 3,5% em adultos. Mas esses números estão aumentando.

A alergia à proteína do leite de vaca é o tipo de alergia alimentar mais comum na infância. De acordo com a Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN, 2012):

- 1 a 17% das crianças menores de 3 anos possuem sintomas sugestivos de APLV
- 2 a 3% das crianças < 3 anos têm APLV
- 0,5% em bebês amamentados exclusivamente possuem APLV
- < 1% das crianças > 6 anos possuem APLV

Quais são as possíveis causas associadas à APLV?



Genética: A influência genética / familiar é o fator mais associado ao desenvolvimento da alergia. Filhos de pais alérgicos possuem 75% de chances de desenvolvê-la. Mas crianças sem história familiar de alergia também podem apresentar APLV.

Hipótese da higiene: essa hipótese tem sido considerada uma das possíveis causas do aumento das alergias alimentares, pois os hábitos de limpeza, as vacinas e os antibióticos tornam as pessoas menos expostas a infecções, acarretando alterações no sistema de defesa e aumentando as chances de desenvolver alergias.

Exposição precoce às proteínas do leite: ao nascer, o intestino e o sistema de defesa do bebê ainda estão terminando de se formar, ou seja, “aprendendo” a fazer a digestão dos alimentos e a defender o organismo contra substâncias nocivas.

O alimento ideal para os bebês é o leite materno, pois é nutricionalmente completo e rico em enzimas e anticorpos que o bebê ainda não consegue produzir sozinho. Além disso, pequenas quantidades das proteínas que a mãe consome passam para o leite materno, possibilitando o contato do bebê com os alimentos que consumirá no futuro, o que favorece o desenvolvimento da tolerância aos alimentos.


A oferta precoce de leite de vaca para bebês, principalmente nos primeiros dias de vida, aumenta as chances de a criança desenvolver APLV, pois os órgãos do trato digestório ainda não estão prontos e a criança poderá ter dificuldade em digeri-lo, absorvendo suas proteínas inteiras, antes de serem digeridas até peptídeos e aminoácidos.

O sistema de defesa do bebê, que também está em fase de maturação, pode confundir a proteína do leite de vaca com algo nocivo e começar a reagir, desencadeando a alergia.

Outras hipóteses: Alguns profissionais têm suspeitado que a transgenia e a globalização possam ter contribuído para o aumento no número de crianças com alergia alimentar, uma vez que ambas possibilitaram o consumo de alimentos com proteínas diferentes às comumente consumidas por determinada população. Mas não existem estudos científicos que confirmem essa hipótese até o momento.

*Contudo, a melhor forma de prevenir a APLV é garantir o aleitamento materno exclusivo até o 6º mês de vida e evitar a introdução precoce de leite ou fórmulas à base de proteína do leite de vaca.

Sinais e sintomas da APLV

Sintomas
Sinais e sintomas
Digestivos
  • Dificuldade para engolir
  • Impactação  alimentar (sensação de alimento parado na garganta)
  • Dificuldade de digestão
  • Falta de apetite, recusa alimentar
  • Saciedade com pouca quantidade de alimento.
  • Regurgitação (golfos) frequente
  • Vômitos
  • Cólicas intensas
  • Diarreia com ou sem perda de proteínas, sangue ou muco**
  • Intestino preso
  • Sangue nas fezes
  • Assadura na região anal
Respiratórios
  • Coriza, obstrução nasal, chiado, respiração difícil e tosse (todos não associados a infecções)
Cutâneos (de pele)
  • Urticária (placas vermelhas na pele), sem relato de infecção, ingestão de medicamentos, ou outras causas.
  • Eczema atópico ou dermatite atópica (ressecamento e descamação da pele, com ou sem a presença de feridas ou secreção)
  • Coceira na pele
  • Angioedema
  • Inchaço de lábios e/ou pálpebras
Gerais
  • Baixo ganho de peso, crescimento e desenvolvimento
  • Anafilaxia
  • Síndrome da enterocolite causada por proteína alimentar (choque com acidose metabólica grave, vômitos, diarreia).



Diagnóstico

O diagnóstico da APLV deve ser realizado em 4 etapas:


1) História clínica
2) Exames laboratoriais
3) Dieta isenta das proteínas do leite
4) Teste de Provocação Oral

Em no máximo 4 semanas é possível concluir o diagnóstico da criança se esses 4 passos forem realizados corretamente.

É importante que os pais sejam pacientes no início, pois em casos de reações tardias os sintomas às vezes demoram a passar após o início da dieta e as crianças podem demorar até 4 semanas para apresentar uma melhora significativa. Isso faz com que as famílias não acreditem na hipótese diagnostica, mudem de médico ou não sigam as orientações, atrasando ainda mais a conclusão do diagnóstico e a melhora da criança.
  • Tipos de reações
  • História clínica
  • Exames laboratoriais
  • Dieta isenta das proteínas do leite de vaca
  • Teste de provocação oral (TPO)

Tratamento da APLV

Alguns medicamentos podem ser prescritos para aliviar os sintomas, principalmente na fase inicial e/ou em caso de ingestão acidental do alimento.

A família de crianças com reações anafiláticas deve sempre carregar consigo a adrenalina auto-injetável, a qual deverá ser utilizada imediatamente se os sintomas forem desencadeados.

Mas os medicamentos não tratam a alergia e não substituem a necessidade da dieta.

*O único tratamento comprovadamente eficaz é a dieta isenta das proteínas do leite, pois ao deixar de consumir o alimento que causa a alergia o sistema de defesa da criança não irá produzir as células e anticorpos responsáveis pela reação alérgica, possibilitando a remissão dos sintomas e o desenvolvimento futuro da tolerância ao leite.

A prescrição da dieta parece algo simples. Mas, garantir à criança uma alimentação saudável, eficaz para o tratamento da APLV, nutricionalmente completa, que não a exclua do convívio social, com um custo acessível e ainda manter a harmonia familiar ao mesmo tempo não é nada fácil.

O primeiro passo para o tratamento é a aceitação. Portanto, antes de iniciar o tratamento é preciso aceitar a nova realidade, aceitar que seu bebê tem APLV de forma genuína e com o coração.

                                                                                                                                     
O diagnóstico da APLV, entretanto, implica em restrições alimentares e essa experiência pode ser sentida e vivenciada de diferentes formas.  O começo pode ser difícil, mas a adaptação chega. Cada família irá descobrir como será sua nova realidade.

 Há quem deva restringir um ou dois alimentos. Há quem deva restringir um pouco mais. Há quem possa tolerar traços, há quem precise controla-los. Há quem prefira manter a mesma alimentação para todos em casa, há quem vá fazer pratos diferentes. Há quem prefira evitar reuniões sociais, mas é sempre bom lembrar que uma marmita recheada de coisas gostosas é um excelente aliado para não perder nenhum evento!

A partir do momento que cria-se uma nova rotina e que os novos alimentos começam a fazer parte do repertório da família, tem-se um novo arranjo. Com tudo mais organizado, já se sabe como abastecer a dispensa e a geladeira, o que comer no café da manhã, o que pode ser preparado para almoço e jantar, o que deve ser congelado para facilitar o dia a dia, quais lanches deve-se ter na bolsa, quais os corredores do supermercado devem ser frequentados, quais sites tem boas receitas e por aí vai.

Dessas novidades, muitas vão permanecer na vida dessas famílias, mesmo que a cura não demore a chegar!




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