quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Doenças Autoimunes

 As doenças autoimunes são um grupo de doenças distintas que têm como origem o fato do sistema imunológico passar a produzir anticorpos contra componentes do nosso próprio organismo. Por motivos variados e nem sempre esclarecidos, o nosso corpo começa a confundir suas próprias proteínas com agentes invasores, passando a atacá-las.

Portanto, uma doença autoimune é uma doença causada pelo nosso sistema imunológico, que passa a funcionar de forma inapropriada.


O que é o sistema imunológico?

Para entender o que é uma reação autoimune é preciso antes conhecer um pouco do nosso sistema imunológico. Tentarei ser breve e sucinto nesta explicação, até porque este assunto é extremamente complexo e extenso, o que o torna de muito difícil entendimento para a população leiga.

Nosso organismo possui um complexo sistema de defesa contra invasões de agentes externos, sejam estes bactérias, vírus, fungos, parasitas, proteínas, ou qualquer outro ser ou substância que não seja natural do corpo. Este sistema de defesa é chamado de sistema imunológico.

O processo evolutivo criou um mecanismo de defesa capaz de reconhecer praticamente qualquer invasão ou agressão ao nosso corpo. A complexidade do sistema está exatamente em conseguir distinguir entre:

1. O que é danoso ao organismo, como vírus e bactérias;
2. O que faz parte do nosso próprio corpo, como células, tecidos e órgãos;
3. O que não é naturalmente nosso, mas não causa danos, como, por exemplo, alimentos que entram no corpo pela boca.

Toda vez que o sistema imunológico se depara com alguma substância estranha, que ele interprete como potencialmente danosa, ele passa a produzir células de defesa e anticorpos para combatê-la. Toda substância estranha capaz de desencadear uma resposta imunológica é chamada de antígeno.

Durante a nossa formação enquanto feto, nosso organismo começa a criar o sistema imunológico. O primeiro trabalho é reconhecer tudo o que é próprio, para mais tarde poder reconhecer o que é estranho. O útero materno é um ambiente estéril, ou seja, livre de agentes infecciosos.

Assim que nascemos somos imediatamente expostos a um “mundo hostil” com uma enormidade de antígenos. Desde o parto, o corpo começa a reconhecer, catalogar e atacar tudo que não é “original de fábrica”. Esse contato com antígenos nos primeiros anos de vida é importante para a formação de uma “biblioteca de anticorpos”.

O corpo consegue montar uma resposta imune muito mais rápida se já houver dados sobre o invasor. Se o antígeno for completamente novo, é necessário algum tempo até que o organismo descubra quais os anticorpos são mais indicados para combater aquela partícula.

  • Essa é a lógica por trás das vacinas. Expomos o paciente a um antígeno, seja ele um vírus ou bactéria, mortos ou fracos, de forma a estimular o sistema imunológico a criar anticorpos contra esses germes.
  •  Quando a bactéria de verdade nos invadir, já temos pronto um arsenal imunológico para eliminá-la rapidamente, antes que a mesma consiga provocar qualquer doença.

 

O que é uma doença autoimune?



 
A doença autoimune ocorre quando o sistema de defesa perde a capacidade de reconhecer o que é “original de fábrica”, levando à produção de anticorpos contra células, tecidos ou órgãos do próprio corpo.

→ Exemplo 1: no diabetes tipo 1 ocorre uma produção inapropriada de anticorpos contra as células do pâncreas que produzem insulina, levando a sua destruição e ao aparecimento do diabetes.

→ Exemplo 2:  na esclerose múltipla, o sistema imunológico começa a produzir anticorpos contra componentes dos neurônios, causando destruição dos mesmos e graves problemas neurológicos.

→ Exemplo 3: na tireoidite de Hashimoto, o corpo passa a produzir anticorpos contra a nossa própria glândula tireoide, destruindo-a, levando o paciente a desenvolver hipotireoidismo.

A gravidade de uma doença autoimune depende dos órgãos afetados. Por exemplo, a tireoidite de Hashimoto é uma doença praticamente restrita à glândula tireoide, que é um órgão importante, mas não é vital. Os pacientes com essa doença autoimune conseguem levar uma vida normal apenas tomando um comprimido por dia de hormônio tireoidiano.

Outras doenças autoimunes, porém, são mais graves, principalmente aquelas que atacam órgãos e estruturas nobres do corpo, como o sistema nervoso central, coração, pulmões e/ou os vasos sanguíneos.


Sintomas

Apesar de os pacientes com doenças autoimunes poderem apresentar alguns sinais e sintomas inespecíficos, como cansaço, febre baixa, desânimo, emagrecimento e mal-estar geral, a verdade é que o quadro clínico de cada doença autoimune é muito diferente.

Doenças como, por exemplo, lúpus, diabetes tipo 1 e psoríase atacam órgãos diferentes, de formas distintas, e por isso, apresentam sinais e sintomas próprios. Elas são doenças tão diferentes que são tratadas por especialistas distintos, como endocrinologista, reumatologista e dermatologista, respectivamente. A única semelhança entre elas é o fato de terem origem autoimune.

Não existe, portanto, um sintoma que seja específico das doenças autoimunes. Cada doença tem seu próprio quadro clínico.

O diagnóstico das patologias autoimunes é habitualmente feito com base no quadro clínico e na pesquisa de auto-anticorpos no sangue. O auto-anticorpo mais comum é o FAN (ANA), que pode estar positivo em várias, mas não todas, doenças autoimunes.


Causas

Não sabemos exatamente por que as doenças autoimunes surgem. A teoria mais aceita atualmente é de que o sistema imunológico, após ser exposto a um antígeno, escolhe como alvo para a produção de anticorpos uma proteína semelhante a outra já existente em nosso organismo.

  • Por exemplo, sabemos que pacientes com a síndrome de Guillain-Barré frequentemente apresentam um quadro de diarreia infecciosa causada pela bactéria Campylobacter jejuni semanas antes da doença se manifestar. 
  • Imagina-se que o sistema imunológico possa criar anticorpos contra algumas das proteínas das bactérias que sejam parecidas com proteínas existentes nos nossos neurônios. 
  • Esta semelhança pode confundir os anticorpos, fazendo com que os mesmos ataquem estruturas do sistema nervoso julgando que estão atacando a bactéria Campylobacter jejuni.


Qual é o médico que trata as doenças autoimunes?

Quando a doença autoimune atinge apenas um órgão, ela costuma ser tratada pelo médico especialista da área

 

  • Por exemplo, a nefropatia membranosa ou a nefrite lúpica isolada são tratadas pelo nefrologista; a hepatite auto-imune pelo hepatologista ou pelo gastroenterologista; 
  • a psoríase é tratada pelo dermatologista, 
  • a esclerose múltipla pelo neurologista e assim por diante.


*Quando a doença autoimune atinge vários tecidos, o seguimento do paciente costuma ser realizado por reumatologista ou por clínico geral especializado em autoimunidade. 

  • Exemplos: lúpus eritematoso sistêmico, doença de Behçet, artrite reumatoide e granulomatose de Wegener.

 
Tratamento

O tratamento da maioria das doenças autoimunes consiste na inibição do sistema imunológico através de drogas imunossupressoras, como corticoides, ciclofosfamida, ciclosporina, micofenolato mofetil, rituximab, azatioprina, etc.

O problema do tratamento das doenças autoimunes com drogas imunossupressoras é o fato de não conseguimos realizar uma imunossupressão seletiva aos anticorpos indesejáveis. Ou seja, não conseguimos inibir o funcionamento apenas dos anticorpos danosos e acabamos por criar um estado de imunossupressão geral que predispõe esses pacientes a infecções por bactérias, vírus e fungos.

Geralmente cada doença autoimune tem seu esquema próprio de tratamento. Algumas delas, inclusive, como diabetes tipo 1 e tireoidite de Hashimoto, não são nem tratadas com drogas imunossupressoras. Não existe um tratamento único que sirva para qualquer doença autoimune.

  

Lista das principais doenças autoimunes

Abaixo fornecemos uma lista com mais de 120 exemplos de doenças de origem autoimune confirmada ou suspeita:

A

    Adipose dolorosa
    Artrite reumatoide
    Alopecia areata
    Artrite reativa
    Artrite juvenil
    Anemia perniciosa
    Anemia aplástica
    Angioedema autoimune
    Anemia hemolítica autoimune
    Arterite celular gigante
    Artrite psoriásica
    Aplasia pura de células vermelhas

C

    Crioglobulinemia mista essencial
    Conjuntivite Lignea
    Colangite esclerosante primária
    Cirrose biliar primária
    Colite microscópica
    Coreia de Sydenham

D

    Doença de Addison
    Dermatite herpetiforme
    Dermatose por IgA linear
    Dermatomiosite
    Diabetes mellitus tipo 1
    Doença autoimune do ouvido interno
    Doença celíaca
    Doença de Crohn
    Doença de Graves
    Doença de Goodpasture
    Doença de Still
    Doença mista do tecido conjuntivo
    Dermatite autoimune por progesterona
    Degeneração cerebelar paraneoplásica
    Doença de Lyme crônica
    Doença de Mucha-Habermann
    Doença de Behçet
    Doença de Ménière
    Doença de Kawasaki
    Doenças desmielinizantes inflamatórias idiopáticas
    Doença sistêmica relacionada com IgG4

E

    Entesite
    Esclerodermia sistêmica
    Esclerose múltipla
    Esofagite eosinofílica
    Epidermólise bolhosa
    Eritema nodoso
    Encefalomielite disseminada aguda
    Esclerose concêntrica de Balo
    Encefalite de Bickerstaff
    Espondilite anquilosante
    Enteropatia auto-imune

F

    Fasciite eosinofílica
    Fenômeno de Raynaud
    Fibrose retroperitoneal
    Febre reumática.

G

    Granulomatose de Wegener (granulomatose com poliageíte)

H

    Hepatite auto-imune

I

    Imunodeficiência primária

L

    Lichen planus
    Liquen escleroso
    Lúpus eritematoso sistêmico

M

    Morphea
    Miosite do corpo de inclusão
    Miastenia gravis
    Mielite transversa

N

    Neuromelite optica
    Nefropatia membranosa
    Nefropatia por IgA (Doença de Berger)
    Neuromiotonia
    Neuropatia axonal motora aguda
    Neuropatia inflamatória progressiva
    Neurite óptica
    Neutropenia autoimune

O

    Ooforite autoimune
    Orquite autoimune
    Oftalmia simpática
    Oftalmopatia de Graves

P

    PANDAS (transtornos neuropsiquiátricos associados ao estreptococo)
    Polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica
    Penfigóide cicatricial
    Penfigóide bolhoso
    Penfigóde gestacional
    Purpura trombocitopênica idiopática
    Pênfigo vulgar
    Pancreatite autoimune
    Pitiríase lichenoides et varioliformis acuta
    Poliarterite nodosa
    Polimialgia reumática
    Polimiosite
    Psoríase
    Poliquondrite recidivante
    Pioderma gangrenoso
    Purpura de Henoch-Schonlein
    Poliangeíte microscópica

R

    Reumatismo palindrômico
    Retinopatia autoimune
    Retocolite ulcerativa

S

    Sarcoidose
    Síndrome de Felty
    Síndrome de Schnitzler
    Síndrome da fadiga crônica
    Síndrome de Sjögren
    Síndrome da pessoa rígida
    Síndrome de Susac
    Síndrome do mioclonia de Opsoclonus
    Síndrome de Parry Romberg
    Síndrome de Parsonage-Turner
    Síndrome de Churg-Strauss
    Síndrome de Tolosa-Hunt
    Síndrome de Evans
    Síndrome de Cogan
    Síndrome de dor regional complexa
    Síndrome do anticorpo antifosfolipídico
    Síndrome de polimorfeno autoimune
    Síndrome linfoproliferativa autoimune
    Síndrome POEMS
    Síndrome de Guillain-Barré
    Síndrome miastênica Lambert-Eaton

T

    Trombocitopenia
    Tireoidite de Ord
    Tireoidite autoimune
    Tireoidite de Hashimoto

U

    Urticária autoimune
    Uveíte autoimune
    Úlcera de Mooren

V

    Vasculites
    Vitiligo

Fonte: MD Saúde, site médico

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