terça-feira, 7 de julho de 2015

Ressaca e seus efeitos no organismo

O álcool é uma das drogas mais consumidas em todo o mundo. Os mais recentes dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que cerca de 30% dos homens e 10% das mulheres no Brasil consomem álcool em excesso pelo menos uma vez por semana. Além disso, quase 80% dos jovens referem consumir bebidas alcoólicas regularmente.


 A  ingestão  de  bebidas  alcoólicas  é  um  hábito  comum  e  milenar  em  muitas  sociedades. 
Sabe-se  também  que  o álcool está relacionado com 50% dos casos de morte  em  acidentes  automobilísticos,  50%  dos homicídios e 25% dos suicídios. Frequentemente pessoas  portadoras  de  outras  doenças  mentais (ansiedade,    pânico,    fobias,    depressão)  apresentam também problemas  relacionados ao uso de álcool .


O  uso indiscriminado do álcool está ligado a mais  de   60   diferentes   doenças,   que   incluem  problemas  coronários,  cirrose  e  câncer.  O  número  de  mortes  e  de  incapacitados  pelo  consumo de álcool em todo o mundo equivale à  soma dos casos provocados pela pressão alta e  pelo fumo

Como o álcool é metabolizado no organismo?

Quando comemos ou bebemos uma substância qualquer, ela passa basicamente por três estágios: digestão, absorção e metabolização pelo fígado. Ou seja, todo alimento que é absorvido pelo trato gastrointestinal obrigatoriamente passa pelo fígado antes de alcançar qualquer outro órgão. Isso vale para alimentos, álcool, remédios, drogas, etc. O fígado é uma espécie de centro de tratamento das substâncias ingeridas. Nada chega à circulação sanguínea central sem antes ter sido processado pelo fígado. O nome desse processo é “metabolização hepática”.

Dentre os vários papeis da metabolização hepática, um deles é inativar substâncias tóxicas que tenham sido ingeridas, como álcool (etanol), por exemplo.


A doença hepática alcoólica é uma das consequências clínicas mais graves do uso crônico do álcool. Além disto, o uso excessivo e crônico do álcool é a causa isolada mais importante de doença e morte por hepatite e cirrose

Bebidas alcoólicas

Resumindo, consumimos álcool, mas antes do mesmo chegar à circulação sanguínea central, o fígado o transforma em acetaldeído, uma substância ainda mais tóxica. Só depois de rodar todo o organismo e retornar ao fígado é que finalmente o álcool ingerido (agora sob a forma de acetaldeído) consegue se inativado para a forma do inócuo ácido acético.

Após bebermos álcool, o resultado final é o seguinte: 
  • 92% do etanol ingerido é metabolizado e inativado pelo fígado, 
  • 3% é eliminado na urina,
  •  5% é eliminado pelos pulmões na respiração (daí o teste do bafômetro)
  •  e menos de 1% sai na pele através do suor.

Obs: O acetaldeído é um carcinogênico (substância que causa câncer) e pode levar à lesão do fígado se a exposição for frequente e prolongada

Por que ficamos bêbados?

Bom, até aqui já aprendemos que o álcool, que é uma substância tóxica, após ser ingerido é transformado em um outro elemento ainda mais tóxico antes de circular por todo o corpo. Mas o problema não termina aí. A absorção do álcool pelos intestinos é muito mais rápida do que a capacidade do fígado de metabolizá-lo.

 O fígado só consegue metabolizar o equivalente a 10 gramas de álcool por hora, o que é menos que uma 1 taça de vinho ou 300 ml de cerveja, que possuem cerca de 12 gramas de álcool. Portanto, se tomarmos o equivalente a 5 taças de vinho, o corpo vai demorar, em média, 6 horas para eliminar todo esse volume. Isso significa que após um consumo exagerado de álcool, por várias horas nosso organismo vai ter que lidar com duas substâncias altamente tóxicas circulando no sangue: álcool e acetaldeído.

Quando estamos de estômago cheio, a absorção de etanol fica mais lenta, dando mais tempo ao fígado para metabolizar o álcool que chega. Por isso, a intoxicação por etanol é mais intensa quando bebemos em jejum. Bebidas alcoólicas gasosas são absorvidas mais lentamente e alimentos ricos em proteínas ou em açúcar reduzem a absorção do álcool.
Doses maiores de álcool e acetaldeído na circulação intoxicam os neurônios, levando à inibição do funcionamento do sistema nervoso. Conforme a concentração sanguínea se eleva, o paciente vai passando pelas seguintes fases: letargia, sonolência, redução do nível de consciência, coma e, eventualmente, morte.

*Portanto, estar bêbado significa estar com os neurônios intoxicados por álcool (e acetaldeído). Os sintomas da bebedeira duram até o fígado conseguir neutralizar todo o álcool e o acetaldeído que circulam no sangue, o que já vimos que pode levar horas.

O que é a ressaca?

O álcool na fase inicial do seu consumo produz como efeito um certo grau de  relaxamento e desinibição do usuário, podendo ser, erroneamente, considerado como útil para o convívio social. Todavia, com o aumento de sua concentração no sangue, seus efeitos adversos irão diminuir a consciência, memória e sensibilidade, prejudicando a percepção do indivíduo, devido a  ação dessa droga sobre o sistema nervoso central
Pois isso é nada mais do que os sintomas da ressaca, o resultado final de horas de exposição a substâncias tóxicas. Na verdade, a ressaca habitualmente surge quando o nível de álcool no sangue já está bem baixo, quase zero, após intenso trabalho de limpeza feito pelo fígado.

A ressaca parece ocorrer basicamente por três motivos:
 
Intoxicação pelo acetaldeído

 O acetaldeído chega a ser até 30 vezes mais tóxico às células do que o etanol. No caso de um consumo exagerado de álcool pode haver presença deste metabólito tóxico na circulação ainda por várias horas após o indivíduo ter parado de beber. Grande parte do mal estar da ressaca é por consequência da exposição prolongada das células ao acetaldeído, o que provoca uma espécie de inflamação generalizada do organismo. Além disso, os neurônios ficam intoxicados, o que atrapalha o estabelecimento de um padrão adequado de sono. O sujeito fica sonolento, mas a qualidade do seu sono é ruim, mantendo-o cansado.

Queda da glicose sanguínea (hipoglicemia)
O processo de metabolização do etanol envolve vias enzimáticas do fígado que também participam da produção de glicose, principalmente em períodos de jejum. Como essa enzimas estão ocupadas metabolizando o etanol, temos uma queda no nível de glicose para o cérebro e outras regiões do organismo. Daí surgem os sintomas de fraqueza e mal-estar.

Desidratação

Um dos efeitos adversos do etanol no cérebro é inativar a produção de um hormônio chamado ADH (hormônio antidiurético). Os rins filtram em média 180 litros de sangue (água) por dia. Graças ao hormônio ADH, destes 180 litros filtrados, urinamos apenas 1 ou 2 por dia. O ADH é um dos principais mecanismos de controle da quantidade de água corporal. 

Quando ele é inibido, toda água que passa pelos rins acaba sendo eliminada na urina. Por isso, alguns minutos após o ingestão de álcool, começamos a urinar o tempo todo. 

Já reparou como é clara a urina após consumo de bebidas alcoólicas? Isso ocorre porque neste momento sua urina é basicamente água pura. Esse efeito diurético leva à desidratação, que causa os sintomas de boca seca, sede, dor de cabeça, irritação e câimbras.

O ADH só volta a ser produzido pelo sistema nervoso central quando os níveis de álcool tornam-se baixos, geralmente após horas de eliminação excessiva de água.
Como evitar a ressaca?

A resposta óbvia é: não beba.

O risco de ressaca é maior quando há um consumo de pelo menos 4 taças de vinho ou 4 latas de cerveja (ou o equivalente em álcool de qualquer outra bebida) no intervalo de 2 horas. Está é uma quantidade de álcool consumido acima da capacidade de metabolização hepática, promovendo grande liberação de acetaldeído para a corrente sanguínea.

Como já dito, beber mais devagar e depois de ingerir alimentos ricos em proteínas e carboidratos diminui a velocidade de absorção de álcool pelos intestinos, dando tempo para o fígado metabolizar o álcool que vai sendo consumido. 

O ideal é comer antes de começar a beber. Depois de bêbado, o álcool já foi todo absorvido, comer só vai aumentar o risco de você vomitar. Todavia, nada impede que você belisque durante a festa enquanto bebe, pois isso ajuda a retardar a absorção do álcool.

Beber muita água antes, durante e depois da festa talvez seja a melhor dica. Toda vez que você for ao banheiro urinar, beba algo não alcoólico, seja água, suco ou refrigerantes (com açúcar de preferência).

Curiosamente, bebidas mais escuras – como uísque, vinho tinto, tequila (que não é tão escura) e conhaque – geralmente causam ressacas piores do que o vinho branco, cerveja ou bebidas claras, como vodca ou gim. Porém, isso de modo algum significa que cerveja ou vodca não provoquem ressaca.

Curiosidade

Tomar medicamentos anti-ressaca, como Engov, antes de beber tem pouco fundamento científico. São drogas que misturam substâncias contra náuseas, analgésicos e cafeína, tentando amenizar alguns dos sintomas da ressaca. O problema é que o seu efeito já não é tão grande muitas horas depois de tomado, e alguns deles ainda contêm anti-inflamatórios ou aspirina, que são substâncias que irritam o estômago. O Engov (ou similares) não age sobre a desidratação, sobre a hipoglicemia, nem sobre a irritação que o acetaldeído provoca nas células.

Além de não funcionarem bem como prevenção da ressaca, esses medicamentos ainda podem estimular o indivíduo a beber mais, pois o mesmo passa a achar que está protegido contra os efeitos maléficos de um consumo exagerado de álcool.

Como curar a ressaca?


Beba muitos líquidos ao acordar. A não ser que você esteja habituado a beber café de manhã, o ideal é evitá-lo, pois a cafeína também é um diurético. Água e sucos são o ideal. Isotônicos (tipo Gatorade) também podem ser usados.

Não existe remédio que cure ressaca nem que acelere o metabolismo do etanol. De nada adianta banho frio, café, chás, produtos com cheiro forte ou qualquer outra medicação caseira. 

O importante é hidratação, carboidratos e bastante repouso

2 comentários:

  1. Com certeza, o melhor é tomar de estômago cheio e intercalar com outras bebidas não alcoólicas.

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