quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Alimentos de Verdade

Priorizar alimentos mais naturais e reduzir a presença dos processados e ultraprocessados na alimentação é a regra. Esse já é um bom começo para afastar do seu corpo as quantidades nocivas de açúcar, gordura, sal e diversos aditivos químicos – estabilizantes, corantes, espessantes e tantos outros– que têm tornado a sociedade ocidental gorda e também doente.



Dados da Organização Mundial de Saúde indicam que 13% da população do mundial está acima do peso. No Brasil, esse porcentual é de 52,5%, de acordo com a última pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde. Junto com os quilos a mais, normalmente, vem uma série de doenças crônicas não transmissíveis. Essas doenças foram responsáveis por 72% das mortes registradas no país em 2011. Só no Paraná, a diabete e os problemas cardiovasculares – doenças normalmente relacionadas ao excesso de peso – foram a causa de 23,8 mil mortes em 2013.

De olho no sal, na gordura e no açúcar

Diminuir a quantidade de alimentos ultraprocessados do cardápio já é um começo para tornar o prato mais saudável. Mas é preciso também maneirar na quantidade de sal, gordura e açúcar que são adicionados nas preparações feitas em casa. Essa também é uma recomendação do Guia Alimentar Brasileiro.

População Brasileira

13% da população do mundial está acima do peso (OMS).
No Brasil, esse porcentual é de 52,5% (Vigitel).
Entenda a diferença

A regra da comida de verdade parece fácil, mas todos nós sabemos o quanto é difícil fugir da praticidade dos congelados, néctares de frutas, molhos enlatados, macarrões instantâneos e toda uma série de produtos que surgem a cada ano prometendo economia de tempo e carregados de sabor. A principal luta de quem defende uma alimentação mais saudável é justamente quebrar esse domínio dos processados e ultraprocessado.


Lanches

A Pesquisa Nacional de Saúde divulgada neste ano mostra que 6,6% da população brasileira troca regularmente uma das refeições por sanduíches, salgados ou pizzas. O Paraná fica acima da média nacional. Por aqui, 7,5% da população troca um prato de comida de verdade por lanches. Em todo o país, o maior índice está no Rio de Janeiro (11,1%) e o menor em Alagoas (1,3%).

Briga nada fácil

Nesse ringue estão o forte lobby da indústria de alimentos, o apelo publicitário, o tempo cada vez mais escasso, a perda da cultura alimentar e a desinformação. “São vários os aspectos que envolvem a alimentação. Desde a necessidade de uma gestão melhor do tempo até a falta de oferta de opções saudáveis próximo de casa. Não podemos culpar o indivíduo por estar obeso, ficamos obesos por viver em um ambiente que favorece isso”, comenta a coordenadora de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Michele Lessa.

Como mudar esse ambiente?

 Responder a essa pergunta e, mais importante, conseguir colocar as respostas em prática é o que aflige os envolvidos na área. Principalmente porque a solução passa por um envolvimento global – que vai do planejamento urbano à divisão de tarefas em casa. Enquanto muito pouco muda, continuamos a engordar e a ficar doente.


De 2006 a 2014, a frequência de excesso de peso cresceu 23% no país, com maior prevalência no grupo com menos escolaridade. De acordo com a Vigitel 2014, 58,9% das pessoas com até 8 anos de estudo estão acima do peso.

Isso é mesmo comida?

Já parou para pensar que nem tudo que está na mesa é realmente comida. É o caso do refrigerante, da margarina e dos sucos em pó, por exemplo. Ao analisar a lista de ingredientes desses alimentos, o que vemos são muitos aditivos químicos e pouco do que conhecemos como comida realmente. 



A jornalista Francine Lima, do site Do Campo a Mesa, ajuda a desvendar o que há por trás dessas substâncias e de outros alimentos que encontramos nas gôndolas dos supermercados. Além da análise da lista de ingredientes, ela explica como funciona o ciclo de fabricação que transforma, por exemplo, o tomate em molho. A intenção é ajudar as pessoas a fazerem escolhas mais bem informadas.http://canaldocampoamesa.com.br/


Leia antes de comprar

Nas prateleiras dos supermercados, os rótulos são convidativos. Ciente da busca dos consumidores por uma alimentação saudável, a indústria alimentícia tem investido em destacar termos como “rico em vitaminas” e “sem gordura trans” ou caprichado nas fotos de frutas e sementes,  para remeter a algo mais natural. Mas não se deixe enganar, ler a lista de ingredientes e a tabela nutricional é a forma mais segura de saber se o alimento entrega mesmo tudo que promete.

A recomendação é das nutricionistas Carolina Grehs e Samantha Peixoto, do site Fechando o Zíper http://desrotulando.com/app/, que faz avaliações dos alimentos com base no que está no rótulo. “Ficamos muito decepcionadas quando avaliamos produtos com expressões como ‘produto natural’ e ‘puro’ na embalagem, e, na lista de ingredientes, possuem aditivos alimentares. Para nós, o mínimo para ser considerado "natural" seria não conter aditivos alimentares, os quais são ingredientes acrescentados ao produto sem o propósito de nutrir e que possuem mais benefícios para o fabricante do que para o consumidor”.

A página, que começou como um blog em 2012, hoje é uma plataforma colaborativa de avaliação de rótulos. Os consumidores mandam fotos dos alimentos industrializados sobre os quais querem avaliação e as nutricionistas dão o parecer. Para ter acesso a todo o banco de dados, é cobrado R$ 9 por mês. Segundo a equipe do site, em breve será lançado um aplicativo para celular. A ideia é que o consumidor escaneie o código de barras do produto e consiga ver a avaliação dele e se existem alternativas mais saudáveis no mercado.

“O que é menos processado é melhor. E se é menos processado, o alimento tende a ser inteiro e a ter menos ingredientes”, explica.

Para a jornalista, que tem mestrado em Saúde Pública, é pouco provável que a população faça um movimento de retorno à cozinha para preparar o próprio alimento, mesmo sabendo dos malefícios dos processados. “Pesquisas mostram que para o consumidor a conveniência vem em primeiro lugar, depois a saúde. O desafio está em oferecer conveniência com saúde e a um preço bom”, afirma.

Boa escolha

Fique atento a lista de ingredientes dos alimentos e não se deixe enganar pela propaganda na hora das compras. Confira algumas dicas para fazer escolhas mais saudáveis:

A esperança nas próximas gerações

A principal aposta do Ministério da Saúde para combater a obesidade está nas crianças. Tanto que a maior parte das ações estratégicas na área são voltadas à infância. Começa já nos primeiros dias de vida, com o incentivo ao aleitamento materno, e acompanha as crianças durante toda a idade escolar, com a vigilância do estado nutricional dos estudantes e a promoção de alimentação saudável nas cantinas.

Enfermeira da maternidade do Hospital de Clínicas

Em Curitiba, a educação nutricional passou a permear todas as disciplinas das escolas municipais. Para as crianças do ensino integral, até a hora do almoço virou momento de aprender. Na Unidade de Ensino Integral Jardim Santos Andrade, no bairro Campo Comprido, por exemplo, elas são incentivadas, por meio de jogos e desafios, a experimentar todos os alimentos que são ofertados.

A atividade, chamada de saladômetro, fez diminuir as caras feias para os “verdinhos” e outros coloridos naturais que parece ser o terror da criançada. O desafio do prato limpo é outra forma de incentivar que elas experimentem. Nesse caso, ganha foto no mural quem raspa o prato a semana toda.

Novo desafio

A desnutrição deixou de ser o desafio nutricional do país. Agora, o problema é a obesidade. 

Conforme dados da última pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, a prevalência de excesso de peso entre os que frequentaram a escola por até oito anos é de 58,9% . No outro extremo (os que têm 12 anos ou mais de escolaridade), o excesso de peso corresponde a 45%. Esse é um problema que vem sendo detectado no país desde os anos 1990. Dificuldade de acesso a alimentos in natura, falta de conhecimento para escolhas saudáveis, pouco acesso a locais para se exercitar e até falta de tempo são algumas explicações para esse quadro.

Os jogos de incentivo do almoço viram tema em sala de aula. Matemática, ciências, artes: a alimentação saudável permeia todas as disciplinas. O desafio é levar o que se aprende na escola para a rotina da casa. Mas o que costuma dar mais resultados são as práticas culinárias realizadas na escola. 


“Os professores sempre relatam que, após o desenvolvimento de alguma prática culinária na escola, por exemplo, os pais geralmente buscam as receitas no dia seguinte, porque a criança chega pedindo para que se prepare aquele alimento que ela comeu na escola e gostou”, conta.

As estratégias de promover a educação nutricional é uma das explicações para o porcentual de estudantes obesos nas escolas municipais vir apresentando uma tendência de estabilização, após quase uma década de alta. De acordo com dados do Sistema de Vigilância Nutricional Escolar de 2015, 15,66% dos alunos das escolas municipais da capital paranaense estão obesos. Esse é um patamar próximo ao registrado em 2013 e pouco maior que o índice do ano passado, que foi de 14,77%.


À mesa do restaurante

Uma alimentação com menos processados e mais comida de verdade não faz bem apenas para a saúde humana, também é melhor para a natureza. O primeiro impacto é na redução de resíduos. Menos processados é igual a menos pacotes, latas, caixas e plásticos. Mais alimentos naturais é igual a mais cascas, folhas e bagaços, que se deterioram muito mais rapidamente na natureza e, muitas vezes, também podem ser aproveitados na alimentação.

Pensando além do lixo e no ciclo como um todo, a chef Gabriela de Carvalho, passou a basear o cardápio do seu Quintana Café em alimentos orgânicos, vindos de produtores locais – redução de gases estufa para o transporte –, e respeitando o tempo de cada alimento. Isso inclui, inclusive, as proteínas.

“Na hora do preparo, buscamos um aproveitamento integral dos alimentos. Caules das verduras e legumes são utilizados em outros preparos, guardadas para fazer caldos. O que não conseguirmos reaproveitar, vai para a compostagem. O material depois é utilizado na nossa horta”, explica Gabriela.

A organização também entra em cena na hora de pensar no lanche que o Dudu vai levar para a escola. Nesse caso, além de tudo, é preciso capricho para chamar a atenção do filho e evitar que ele se encante com as embalagens coloridas dos lanches industrializados dos outros amigos. Na lancheira, bolos, pães ou biscoitos caseiros, fruta, água ou iogurte natural.

Além do carinho e da organização, o exemplo também ajuda, e muito. “Ele sempre comeu à mesa com a gente. Se estivéssemos comendo um hambúrguer, seria difícil convencê-lo a aceitar uma salada”, comenta. Thais conta que na casa não tem alimentos que o Dudu não possa comer e dá uma boa dica: evite apresentar para o seu filho alimentos ruins – refrigerantes, macarrão instantâneo e empanados congelados entram aqui.

Para as mães que estão começando agora a introduzir os alimentos sólidos na dieta das crianças, o segredo é: calma. “Os pais criam uma expectativa de que o filho vai comer um baita prato de comida, mas é preciso respeitar o tempo da criança. A tensão, principalmente da mãe, passa para a criança e isso acaba prejudicando o momento da refeição.”


Confira dicas para fazer as crianças terem uma alimentação mais saudável:

Alimentação

    Amamente o bebê. O sabor do leite materno varia de acordo com o que a mãe come. Assim, o paladar da criança se acostuma desde cedo a sabores diferentes.
    Dê sempre preferência às papinhas caseiras. Além de mais saudável, ajuda a criança a se acostumar a diferentes texturas e sabores.

Disciplina

  •     Estabeleça uma rotina alimentar e seja forte. 
  • Se a criança não almoçou, deixe claro para ela que a próxima refeição será o lanche. E nada de liberar biscoitos, mingaus ou outras guloseimas antes da hora.
  •     No caso das crianças maiores, vale chama-las para acompanhar o preparo do alimento. Isso as envolve e incentiva a provar novos sabores.

Exemplos

  •     Faça refeições junto com a criança e se alimente bem. Crianças aprendem com exemplos. Se veem o pai comendo alimentos saudáveis, vão acabar se interessando e querendo, pelo menos, experimentar.
  •     Não apresenta a criança o alimento que não quer que ela coma. Se ela não conhece refrigerante, não vai querer tomar nem tão cedo.
  •     Não tenha em casa alimentos que não quer que seu filho coma. Afinal, se não tem bolacha recheada no armário, a maçã fica muito mais apetitosa.


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