A tremedeira involuntária raramente é maligna, mas quase sempre indica a necessidade de diminuir um pouco o ritmo da vida
Quase todo mundo já passou por isso: você está fazendo suas coisas normalmente, trabalhando ou vendo TV, e de repente uma de suas pálpebras treme. Sem nenhum motivo aparente, só treme. Passado algum tempo, treme de novo. A situação se repete por alguns dias, até essa movimentação sumir. E fica a dúvida: por que isso ocorre?
“Há inúmeras causas, que vão desde estresse, fadiga e excesso de consumo de cafeína até o indício de alguma lesão ocular ou problema neurológico”, explica Rita de Cássia Lima Obeid, especialista em plástica ocular e vias lacrimais do Hospital CEMA.
Esta última parte não deve ser motivo para pânico; na maioria dos casos, o tremor das pálpebras é benigno. “É a chamada mioclonia, que pode inclusive ocorrer em outros músculos, como nas mãos ou nos pés”, afirma a médica oftalmologista Fabiola Gavioli, do CBV Hospital de Olhos. “Nas pálpebras, ela está relacionada ao estresse, à fadiga, ao uso de grau errado nos óculos ou não uso de lentes de correção ou, ainda, à exposição por muito tempo à tela do computador”, continua.
O consumo de cafeína costuma ser um gatilho para os tremores em quem já se encaixa em um desses casos. Mas o café, o chá preto e o chimarrão não conseguem, por eles apenas, causar os “tremeliques”. Ou seja, você pode beber baldes de café (embora não deva, porque nenhum excesso faz bem para o organismo) e não sentir nada nas pálpebras se estiver vivendo uma fase plena e tranquila da vida.
É preciso tratar os tremores das pálpebras?
Normalmente, não é necessário correr para o médico por causa de tremores nas pálpebras. Rita de Cássia reforça que eles podem significar simplesmente que o organismo está cansado, estressado, e precisa de uma desacelerada.
Além disso, Fabíola conta que a condição é autolimitada, por isso vai embora do mesmo jeito que vem: com você um pouco incomodada, mas sem lembrar quando foi o primeiro e quando foi o último tremor. “Em consultório, não há muito que possa ser feito a não ser recomendar que o paciente diminua o ritmo de trabalho, use óculos ou lentes de contato adequadas e evite ficar por muito tempo na mesma posição e com o mesmo foco em frente a um computador. Às vezes receita-se vitamina B, para relaxar os músculos do corpo no geral, mas não mais que isso”, diz.
Estresse, uso errado de lentes de correção, tempo demais na frente do computador e consumo excessivo de cafeína são os fatores que mais comumente levam aos tremores nas pálpebras
Mas e aquela história de o tremor da pálpebra poder indicar algo mais grave?
Em ocorrências mais raras, como Rita de Cássia destaca, o tremor dos olhos realmente pode indicar distúrbios no funcionamento ocular e no sistema neurológico ou mesmo a consequência do uso prolongado ou abstinência de calmantes ou alguns tratamentos com estrógeno. “Nesses casos, temos um quadro de blefaroespasmo”, esclarece .
- O blefaroespasmo é aquele piscar de olhos involuntário, repetitivo e perceptível. É uma sequência de piscadas marcantes e notáveis”, explica Fabiola.
- A mioclonia não é percebida pelos outros, a não ser que a pessoa fale que está sentindo esses tremores para alguém e peça para ser observada atentamente.
Aqui vale lembrar que problemas mais graves, geralmente, não têm sintoma único. O blefaroespasmo sozinho pode ser uma condição isolada e tratada com métodos paliativos (já que não tem cura), como a aplicação de botox na região. Se vier acompanhado de outros sinais é que merece uma atenção especial.
Coceira e vermelhidão ou o blefaroespasmo atingindo outras partes do corpo são alertas para marcar uma consulta com uma especialista. “É importante essa ajuda médica, principalmente quando o tremor começa a impedir o paciente de exercer suas atividades diárias”, orienta Rita de Cássia.
No entanto, se o tremor palpebral acontecer com maior frequência, pode estar associado a outros fatores que deverão ser investigados pelo oftalmologista, como:
Ingestão excessiva de cafeína ou álcool – O efeito estimulante da cafeína e relaxante do álcool pode causar tremor palpebral, principalmente quando ingeridos em excesso. Se o início do tremor palpebral coincidir com o aumento na quantidade diária ingerida de cafeína ou álcool, o ideal é diminuir a ingestão dessas substâncias, voltando, no máximo, às doses habituais. A cafeína é encontrada em café, chá e refrigerante.
Deficiência de magnésio – A deficiência de magnésio é a causa nutricional mais comum de tremor palpebral. O magnésio facilita a transmissão dos impulsos nervosos e regulariza as contrações musculares. Ele é encontrado em grande quantidade no espinafre, couve, amêndoa, castanha de caju, semente de abóbora, banana e arroz integral. Pode ser suplementado também.
Olho seco – Pode ser causado pela idade, alterações hormonais, uso de lentes de contato, má qualidade da lágrima ou uso de certas medicações. O tratamento geralmente é feito com colírios lubrificantes.
Cansaço visual – As principais causas de cansaço visual são a falta de óculos ou o uso de óculos com grau errado, o uso prolongado de computador, telefone celular ou tablet, a proximidade excessiva desses aparelhos com os olhos e a falta de óculos escuros nos dias muito claros.
Bruxismo (ranger de dentes) – Acordar com dor na articulação temporomandibular, dor de cabeça ou apresentar retificação no contorno dos dentes são sinais que podem estar associados ao tremor palpebral, principalmente por também estarem associados ao estresse. O profissional mais indicado para cuidar do bruxismo é o dentista.
Outras causas menos comuns – Hipoglicemia, doença de Parkinson, síndrome de Tourette e algumas outras doenças neurológicas.
*Quando o tremor palpebral é esporádico, não precisa de tratamento específico. Procurar diminuir o estresse, melhorar a alimentação e dormir melhor podem ajudar. O oftalmologista pode checar se há necessidade do uso de óculos, se os óculos estão desatualizados ou se os olhos estão secos.
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