quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Distimia ou Depressão

A distimia é uma patologia muito comum e ainda bastante sub-diagnosticada no BRASIL. Estima-se que até 6 % da população seja distímica, o que soma cerca de 11 milhões de brasileiros. Existe um predomínio no sexo feminino (cerca de 3 mulheres para cada homem acometido), o quadro pode se instalar em qualquer idade, mas existe uma predileção por início na adolescência ou vida adulta jovem. Entenda a doença pelo Neurologista Dr. Leandro Teles.




Trata-se de uma doença CRÔNICA, de instalação insidiosa e curso superior há 2 anos. Seus sintomas são bastante parecidos com o da DEPRESSÃO CLÁSSICA, mas são mais leves e menos incapacitantes, o que dificulta o diagnóstico e a reduz a busca por ajuda.




Diferente da Depressão tradicional, que geralmente surge em EPISÓDIOS de instalação mais incisiva e com sintomas proeminentes de TRISTEZA e angústia, na DISTIMIA temos uma instalação mais suave e sintomas menos grosseiros. Por isso, muita gente confunde a distimia com traços de personalidade e carácter. Pacientes e pessoas que o cercam acreditam que a pessoa é daquele jeito o pronto, e a pessoa é tida como reclamona, intolerante, desanimada, sem energia, etc.


*O portador de DISTIMIA pode sentir uma espécie de vazio, de buraco interior, como se sempre lhe faltasse algo. A despeito de cobrar de si e dos outros (perfeccionismo), o paciente geralmente apresente pouco entusiasmo e até uma certa fadiga física e mental que amarra suas realizações, sendo geralmente um profissional mediano.

DISTIMIA – Principais SINTOMAS MENTAIS


Mau Humor Crônico
Irritabilidade
Intolerância
Auto Crítica Elevada
Baixa Autoestima
Vazio Interior
Dificuldade de sentir prazer
Ansiedade
Culpa e Frustação



Existem também SINTOMAS FÍSICOS da DISTIMIA e as comorbidades (doenças que podem acompanhar o quadro principal:

  •     Distúrbios alimentares: a pessoa com distimia pode apresentar excesso ou falta de apetite. Podendo inclusive evoluir com ganho de peso e obesidade (que pode trazer problemas clínicos).
  •     Distúrbios de sono: Muito comum a associação de Distimia com insônia e sonolência diurna. Assim como fadiga física e mental e sono não reparados.
  •     Distúrbios Gastrointestinais: a associação de distimia com síndrome do intestino irritável é muito comum. Com isso os pacientes podem ter alternância entre obstipação e diarreia, principalmente em momentos mais emocionais.
  •     Dores: Quem tem distimia muitas vezes procurar o clínico com queixas de dor de cabeça e dores musculares. Geralmente nenhuma causa é identificada. A causa é o excesso de contração muscular involuntária.
  •     Queixas intelectuais: Além do aspecto emocional e clínico, os pacientes podem queixar de desatenção, esquecimentos, falta de criatividade, etc.
 


Comorbidades (Doenças Associadas):

  •     Depressão Episódica: A distimia é um tipo de depressão arrastada, crônica e com sintomas mais leves. Agora, boa parte dos pacientes podem ainda apresentar fases de depressão clássica, episódica. Quando melhoram, como ou sem medicamento, podem voltar ao seu estado de distimia basal.
  •     Ansiedade / Pânico: praticamente todos os pacientes distímicos apresentam algum grau de ansiedade, seja crônica, seja eventual. Alguns apresentam complicações da ansiedade como Síndrome do Pânico, TOC, fobias, etc.
  •     Abuso de Substâncias: Em casos muito arrastados existe o RISCO de Abuso de substâncias (Álcool / drogas e tranquilizantes) e mesmo o risco de suicídio (cerca de 15 % dos portados de distimia chega a pensar em suicídio durante a evolução).

Causas da Distimia

A distimia apresente causas GENÉTICAS (Predisposição) e causas ambientais. Pessoas com Familiares com quadros de ansiedade, depressão ou mesmo distimia têm uma chance maior de ter DISTIMIA. Agora, eventos traumáticos, estressantes, principalmente crônicos e que afetem a autoestima e levam a frustação.

Diagnóstico

O diagnóstico é TOTALMENTE clínico e depende da história do paciente e do exame físico feito pelo médico (que geralmente está dentro da normalidade na DISTIMIA). Exames de sangue e imagem do cérebro não demostram o problema.



Por vezes, o médico pede exames para investigar outras doenças que podem MIMITIZAR a DISTIMIA, como o exame para ANEMIA e disfunção da TIREÓIDE. Mas, na grande maioria dos casos de distimia, a investigação é completamente negativa e o diagnóstico é pautado na opinião do médico, baseado plenamente na história contada pelo paciente e familiares.

Tratamento

O primeiro passo é o RECONHECIMENTO do problema. 


Infelizmente uma minoria recebe o diagnóstico correto em um prazo aceitável. A causa disso é a desinformação, seja por parte da população, que acaba aceitando passivamente os sintomas e não procurando ajuda médica, seja pelos próprios profissionais da saúde, que deixam escapar o diagnóstico por desconhecimento, desatenção, falta de tempo com o paciente ou mesmo por interpretar os sintomas físicos isoladamente.

O tratamento é pautado em 3 eixos principais (Mudança do Estilo de VIDA, psicoterapia e medicamentos).

    Mudança do ESTILO de VIDA: Fundamental iniciar atividade física, manter uma alimentação balanceada, evitar vícios e compulsões, rotina adequada de sono, etc.
    Psicoterapia: medida importante, principalmente se aliada ao medicamento. Na psicoterapia o paciente desenvolverá artifícios psíquicos para combater o problema, compreender seus determinantes e lidar com suas emoções.
    Medicamentos: são de vital importância em casos com evidente impacto na qualidade de vida. O ajuste químico do desbalanço cerebral pode atenuar todos os sintomas da distimia, sejam os emocionais, sejam os físicos e cognitivos. Geralmente são da família dos antidepressivos e agem nas vias da Serotonina, Dopamina e/ou Adrenalina. São de uso regular e por longo período de tempo (geralmente mais de 6 meses).

*O tratamento misto, composto por mudança do Estilo de vida/ Psicoterapia e Medicamento é altamente eficaz e deve ser conduzido por profissionais com experiência em transtornos do humor. Deve ter participação familiar e engajamento do paciente para dar certo. O foco é atenuar os sintomas não adaptativos, melhorar a performance emocional, física e intelectual e promover qualidade de vida, tanto para pacientes, como para os que o cercam.

Leandro Teles, Neurologista


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